O Anjo do busão...

 





Uma mulher linda, um anjo, uma visão ( que Antônio vai esquecer assim que descer do ônibus). A noiva do jovem vivia reclamando do quanto estava perigoso andar de moto pelo Recife. Todo dia uma nova história sobre acidente. Ele procurava evitar. Como era bonita aquela moça. 

O ônibus inteiro meio que parou para vê-la chegar até o meio do coletivo e encontrar seu lugar entre duas senhoras que tiveram negado a fina educação de se ceder o acento naquele ônibus tão lotado.

Na descida, um susto. Duas motos batem de frente quase estragando o dia. Eram dois jovens motoristas de aplicativos, envoltos em números. Um deles transportava um senhor meio barrigudo. Não tinha como negar a precisão de sua noiva. Como era perigoso andar por aí de moto.

Foi só um susto. Os motoqueiros levantam-se como manda a norma e seguem seu rumo. Um deles, o senhor barrigudo, na pressa, deixa um pacote no chão.  Antônio pega o pacote. Uma espiadinha. 

São maços e mais maços de dinheiro. Grana viva em plena véspera de eleição.  A caixinha de biscoito (treloso, ironicamente) é pequena, porém,  pesada. De olhada, não dava para saber quanto tinha ali. Apenas notas de 50 e de 100. Meu Deus. Você realmente existe?

Segura a caixa desconfiadamente. Espera alguns minutos.  Quem sabe o ‘dono’ não volta para buscar? É véspera de eleição.  Tudo pode acontecer em véspera de eleição.  O mundo é mal. Não vejo motivo para não ser também um pouco.

O tempo passa. Pede uma moto. Um motorista demora um pouco para aceitar. Pensa no lugar mais distante pra ir. A casa da avó. Vai contar tranquilamente cada maço de futuro e traçar planos. A moto demora. 

O aplicativo informa que ela está logo ali, dobrando a esquina.  O ‘dono’ da caixa chegou mais rápido.  Três tiros à queima roupa na parada de ônibus ao lado da estação do metrô menos badalada do Recife.  É mesmo assim: rápido, apressado, mal escrito pouco original. Uma resposta teimosa para um situação? Agora não mais importa. 

Bem que a noiva dizia que andar de moto era perigoso. Na despedida,  que não deve ter durado milissegundos,  lembrou do rosto daquela moça do busão.  Como deveria ser mesmo o nome dela?

 

 


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