Chamaram a viatura da PM. Quase hora do almoço, os polícia aproveitavam para gastar o ar-condicionado da viatura nova, que a governadora comprou pra dar uma nova roupagem pros baculejos na favela. Meia hora antes um deles tinha decido para pegar uns sorvetes na padaria da esquina. Aquela lua em plena segunda feira.
A menina chega. Talvez funcionária do mês pela quarta vez seguida. Chega de bicicleta, esbaforida, comentando com os polícia uma situação de furto num mercadinho ali por perto. A funcionária avistou a viatura e seguiu para chamar os homens e garantir o flagrante. Os policiais só não fizeram uma cara mais feia por causa do sorvete doado minutos antes. Seguiram até o local.
Uma senhora com seus sessenta anos tinha cometido um delito grave: furtara na cara dura quatro caixas de chocolate da marca Garoto e tentara se evadir do local, levando consigo conteúdo. Um absurdo. Os guardas foram até o local. Abordaram a senhora, claramente transtornada com a situação.
Levaram para a delegacia. A funcionária exemplar seguiu de bicicleta a viatura com a prova do crime na mão. O agravante: a acusada era reincidente. Andava pelas padarias, farmácias e mercadinhos do bairro furtando desodorantes, pães e folhas de alface dos estabelecimentos. Sem dúvida um perigo enorme para a comunidade.
Levaram para a delegacia. O delegado puxou os antecedentes. Um laudo assegurava uma demência da senhora em questão. Crime mesmo era da família, a quem caberia o cuidado da mesma. O constrangimento dos policiais envolvidos, que diante da situação sentiram-se impedidos ao espetáculo: colocaram a idosa no camburão, a algemaram enquanto os curiosos ao redor filmavam tal agressão, muitos dali sorrindo.
Localizaram a família, chamaram a assistente social, deixaram a senhora em casa, dessa vez sem precisar de espetáculo ou plateia. Diante desse abuso absurdo um gari, observando tudo afirmou que se tivesse a grana para pagar pelas míseras quatro caixas de chocolate, faria. Pra quê tanta maldade e ódio por causa de algo tão simples? A gente perdia o melhor de nossa humanidade por tão pouco.
Comentários
Postar um comentário