Sal Grosso...

 




Me mudei no começo do ano de 2024. Involuntariamente, apesar de esperar que minha companheira não leia essa crônica, como ela costuma fazer. Morava ao lado do mar, apesar de não ir religiosamente quase nunca. Seguindo a sina do aventureiro vim morar no Recife, xingando e reclamando de Deus e o mundo, não pelo ato em si, mas por todos os transtornos acarretados com a tal da palavra.

Mudar é empilhar caixas. É descobrir que você tem mais livros do que devia e achar muita coisa inútil que você sempre viveu dizendo que iria se livrar um dia, mas não fez. Eu me mudo e percebo depois de dias alguma movimentação atípica e estranha no Hall do meu bloco: toda vez que o Sport Club do Recife ia jogar, o chão amanhecia temperado com sal grosso.

Sendo bem honesto, não sei o significado daquele gesto, tão pouco reparei que havia ali uma contenda mortal. Minha vizinha do lado, torcedora do Sport, saía bem cedo nos dias em que o maior time de Pernambuco entrava em campo. Pensei ser alguma superstição. Não era.

Parece que existia uma espécie de desavença entre a minha vizinha do lado e a vizinha de cima. Aquele climão. Pleno sabadão, eu varrendo o hall de meu bloco, coisa, aliás, que eu deveria fazer mais vezes, admito e começa a rolar uma treta tretosa no grupo de ZAP do bloco. Eu, inocente, sem olhar o ZAP no fim de semana, não consegui acompanhar as quase trezentas mensagens de textos, os duzentos emojis e os cento e cinquenta áudios de mais de dois minutos de indiretas, xingamentos e ameaças de todos os tipos. Uma verdadeira lavagem de roupa suja.

Acontece que as vizinhas se ameaçavam, ambas dizendo que aquele sal grosso se tratava de uma macumba feita. Aí lá vem eu, ateu, enfiado nessa briga, varrendo o sal grosso e ouvindo minha esposa rindo por trás da porta sem me dizer nada.

Se foi mandinga não deu muito certo pro Sport. A onda de brigas também não parou no grupo do zap. Volta e meia um farpa em pleno domingo de manhã ou feriado. Vizinhança é isso me disse uma amiga, Mãe de Santo. E eu torcendo pra alguém do bloco ficar sem sal qualquer dia desses e vim me pedir emprestado. . .


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