Sexta feira. Último dia de um recesso entremeado de gripe, calor e tosse. Minha filha de quatro anos senta ao meu lado num sofá disputado nesses dias de Netflix vazia e HBO. Nada novo para ler. No rádio, o anúncio que o Sport trocava de novo de treinador. É julho. Uma mistura de calor com “daqui a pouco chega a chuva” que não melhora em nada o meu humor. Na pia, pratos. Vem na cabeça os dias esquecidos de uma quarentena terrível. Reparando bem, aqueles parecem dias que nossa mente se esforça para esquecer.
Dandara liga a TV. Aquele menino que é a cara do Michael Jackson cana aquela música com o clip do macaquinho. O som é bom. O moço fala de um dia em que ele não queria ter nada para fazer. Lembra meu irmão mais novo, Bob, que chamaria esse tipo de música de alguma coisa para se ouvir, num domingo, de manhã, voltando pra casa do Recife Antigo. Aí em plena sexta a cabeça teima, o clima aperta e a gente fica pensando em um monte de coisa no lugar de descansar.
A música fala de um não ter muito que fazer. Um clip que ensaia ser jogado, numa canção que veste uma roupa de despojada, simples e improvisada. Mas não tem nada disso. O clip e a música parecem com a vida da gente, quando as coisas parecem meio ensaiada, com tudo pintado pra parecer espontâneo mas a gente tá com uma corda no pescoço quase nos tirando o ar.
O clip passa pela segunda vez e eu já tô cantarolando a melodia. Alana agora fala sobre o fato do artista não gostar da própria música. Confiro na internet. É mais ou menos isso. O cara não gosta da música, imagino eu, por ser uma daquelas grandes pressões para fechar um disco. Que agonia. Quase perco minha sexta feira por causa dessa musiquinha. Uma dor de cabeça, uma xícara de café que acabei não fazendo e uma tosse da desgraça que não me deixa feliz. Mas isso é história pra outra conversa. A música começa de novo e eu agora tô sorrindo, fingindo ser feliz.
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