O primeiro turno das eleições municipais nesse outubro de 2014 escancarou ainda mais as limitações e a farsa da chamada democracia burguesa. Antes da votação no domingo, a compra de voto, as negociatas e as movimentações noturnas na madrugada da véspera do domingo. No domingo de manhã tanto santinho espalhado no chão chega a fazer lama. Uma senhora quase caiu em minha frente na entrada do meu local de votação, tamanha sujeira.
Somos chamados a votar, balançar bandeiras e vender nosso voto por míseros trocados que deveriam ir para a compra da merenda das crianças e o remédio no postinho, mas, junto com as emendas do orçamento nada secreto, são usados para fazer girar a roda da corrupção eleitoral, numa grande farsa sem máscara alguma.
A ‘corrida eleitoral’ é como uma festa que nos chamam de última hora e não nos avisam o endereço nem nos dizem que vamos ficar lavando os pratos, olhando o estacionamento e servindo as bebidas. Um grande exemplo: para a Prefeitura de São Paulo chamaram o Pablo Marçal, envolvido em diversas denúncias espalhador de mentiras e um verdadeiro desagregador nos debates e entrevistas para as rádios e TVs, espaços esses que são concessões públicas.
Pela chamada cláusula de barreira o partido do Marçal, PRTB, não deveria nem ser chamado a participar dos debates. O que faz a mídia? Infla o nome do candidato lhe fazendo propaganda gratuita, colocando o nome do milionário envolvido com o crime organizado nos primeiros ligares das pesquisas.
Por outro lado, Ricardo Senese, da Unidade Popular pelo Socialismo, metroviário, preso por lutar contra a privatização da água em SP, não teve horário de TV nem rádio, tratado de modo completamente diferente pela mesma mídia que se diz neutra e independente nessas horas. No Rio Grande do Sul a capital gaúcha vai ter segundo turno com uma larga vantagem do atual prefeito, Sebastião Melo, irresponsável com o meio ambiente e responsável pela política desastrosa que fez milhares de famílias sofrerem ainda mais com as chuvas do começo desse ano. No Recife, o 'príncipe' do PSB investiu alguns milhares de reais para fabricar uma imagem e perpetuar uma mesma política em Pernambuco que nada mais é que uma nova forma de capitanear e dividir o estado.
O centrão movimentou milhões para alimentar suas bases, enquanto a máquina pública era usada para pintar meio fio, pavimentar ruas, cortar mato e usar os cargos comissionados para fazer campanha.
É tudo uma grande farsa. Ganha o candidato que tiver mais grana, padrinho político ou parente na política para perpetuar o nome.
A despolitização ( ‘des’= afastamento, negação) é ferramenta usada para manter sob uma névoa de ignorância e ódio todo um povo, que ainda é mergulhado num processo que mais parece uma ida na feira num sábado de manhã do que qualquer outra coisa.
Há quem sambe diferente. No meio do mar da lama de santinhos e bandeiras superfaturadas, candidaturas laranjas e partidos de aluguel há quem ouse subir o morro todo dia para levar uma boa nova. A construção da chamada participação popular e da escuta junto ao povo é a proposta da Unidade Popular, que apesar de não ter feito nenhuma cadeira nessas eleições municipais tem se destacado entre as esquerdas.
A UP veio não apenas com o discurso de ‘politizar a campanha’, discurso camuflado entre uma esquerda mergulhada num esquerdismo tão profundo, que a cada ano fala apenas para si e não conseguem se quer enxergar isso.
Falar pelo povo, usar o povo ou fazer com povo. É essa a encruzilhada que se encontra hoje as eleições. E nesse processo há aqueles que se julgam tão acima dos outros que basta ouvir a palavra ‘crítica’ para usar todas as armas, retóricas, decoradas e guardadas estrategicamente para usar em dias como esse, para engordar com vento discursos sobre hegemonia, liderança e autonomia.
Mas há quem sabe diferente.
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