Época de eleição, seu Tonho fica todo todo ao ver as ambulâncias passando em sua porta. É aquele desfile de hipocrisia: os vereadores colocam suas fotos em carros estilizados e de procedência duvidosa, com fotos, deles, com aquele sorriso e uma cara de “eu vou bater em sua porta”.
Deveria ter uma lei proibindo o uso desse tipo de expediente. O cara não faz nada durante dois anos e, quando se aproxima um novo pleito, é um tal de doar cesta básica, subir ladeira, distribuir ficha de postinho médico mas nada substitui ou é mais favorável do que o tal da ambulância fantasma que aparece a cada ano eleitoral pra nos fazer de besta.
Naquele dia, seu Tonho resolveu se vingar. Fingiu infarte, acionou o “disk babão” (aquele desocupado que fica presta serviço 24 horas de assessor de parlamentar) para lhe levar no shopping, pois não queria perder a sessão das 17hrs.
É claro que seu Tonho não disse isso. Primeiro ele fez todo o moído, gemeu feio a peste, rangeu os dentes, rolou no chão feito menino birrento e, no meio do caminho, em plena avenida, anunciou o seu plano.
Aí já não tinha mais volta. O babão não arriscaria perder seu prestígio com o coronel, digo, vereador local. Ficou caladinho, assistiu o filme com seu Tonho e seu filho, Edgar, o acompanhante, e até pagou a pipoca.
Na volta para o bairro, já pelas tantas da noite, o telefone toca. Era o parlamentar, preocupado com seu eleitor: “seu Tonho é meu amigo, você sabe”. Com seus 11 filhos não posso negar um favor”. O babão, claro, colocou tudo em sua conta. “Tá resolvido, doutor! Quase que ele morria, mas se salvou! O atendimento foi de primeira. Mais uma vez a sua ambulância salvou”.
- E ele ia morrer mesmo, ia?
- Ô se ia. Mas Jesus salvou.
- E o voto, tá garantido?
- Mas se tá...
- E o da família?
- Claro. Amém, meu querido. Pegue aí a ambulância, aquele trocadinho e leve a família pra ver aquele filme que você disse que queria. Chame também seu Tonho. Tá velho, bichinho. Precisa se animar.
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