Nunca gostei muito de Fórmula 1. Pra falar a verdade, corrida nenhuma. Nem a Maratona me encheu os olhos. Mas, esses dias me deparei com uma dessas datas que batem na nossa cara, na nossa porta ou entram pela janela e sentam no sofá, quase que impossível de dizer que a gente não nota.
Quando Airton Senna morreu eu tinha quase sete anos. Não tínhamos TV em casa, por isso costumávamos assistir as corridas, geralmente aos domingos, à última casa do fim da rua, onde morava uma simpática vizinha e amiga. Meu irmão mais velho era quem gostava das corridas, eu ia mais pelos lanches que a gente ganhava e para ver a Josi, a filha, bem mais velha que eu e que era um delírio para meus olhos, mais impressionante do que aqueles carros dando as mesmas e chatas voltas.
Além da Josi tinha seu irmão, que não vou lembrar do nome aqui, e que também não farei lá muito esforço pra isso. Amigo de meu irmão mais velho era dele a história que volta e meia era assunto entre nossa mãe e as vizinhas, e prova cabal de que meu irmão, apesar da cara de besta, não tinha nada de santo.
Quem foi menino nos anos noventa vai lembrar de um personagem dos Cavaleiros do Zodíaco chamado Docrates. Em uma luta com o cavaleiro de Cisne esse personagem tem a perna congelada, enquanto os outros soldados da deusa Atena lhe sentam covardemente a porrada.
Pois bem, esse nosso vizinho foi brincar disso na escola mas meu irmão, inocentemente, deixou que ele escolhe o papel do Cavaleiro de Cisne, o Hyoga, coincidentemente o personagem que meu irmão mais gostava. Quem não assistiu a cena de luta entre esses dois não vai entender. Vai ficar igual minha mãe, que teve que ir na escola dar conta de explicar o incidente envolvendo os amigos de turma, de rua e fãs de Fórmula 1. Tadinho do menino.
Naquele domingo da morte do Airton Senna eu recordo de meu irmão chorando e de não entender bem o motivo. Relendo as notícias admito não me recordar do quanto se deu a demora pelo anúncio da morte daquele que parecia ser o responsável por fazer crianças como meu irmão assistir, gostar e conhecer Fórmula 1.
Eu lembro da gente tendo que voltar pra casa mais cedo naquele dia, coisa que acontecia, geralmente quando se tinha alguma coisa fora do comum na rotina. Trinta anos de sua última volta, última corrida, e aquela imagem dele sempre jovem, sempre sereno, como que nem parecesse que ele ganhava a vida se arriscando naqueles carros que pareciam serem feitos de plástico.
Corrida de Fórmula 1 tem esse negócio da necessidade do controle que chega a chamar atenção. Pra ela ser perfeita nada pode dar errado. Os carros tem que ficar naquela onda de voltas e mais voltas sem ter graça alguma. Quando alguma coisa sai do controle, frio na espinha.
‘Os bons morrem jovens’. Trinta anos depois e meu irmão ainda curte suas corridas. Não sei se os seus filhos também gostam. Eu ainda lembro da Josi. Não esqueci o nome dela, tá vendo? E a imagem do Senna, sempre jovem, inspirando os mais jovens até hoje. Um herói né? Não há outra definição melhor pra quem só fez um país inteiro sorrir.
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