Balanço...

 

 


Tem a foto e os bastidores da foto. O texto e a inspiração para o texto. Do mesmo jeito que existe a crítica,  a opinião e a Internet.  A crítica vem do 'separar para distinguir' (do grego krinein) Lembra uma professora minha de teoria e crítica literária que dizia que a gente tinha que 'desmontar e montar o brinquedo para entender'. Criticar lembrar algo que dá trabalho.  Aí vem a opinião, que deriva de OPINIO, OPINARI (supor, julgar, aquilo que vem de nossa crença). Uma opinião antecede uma crítica? Elas se complementam? Aí vem a Internet com seu senso comum onde cabe tudo e onde esse tudo precisa dar lugar ao trator do dissenso.  Ou seja, é preciso alimentar o algoritmo. A gente achava que existia liberdade nas terras do Google.

Dispensaram a utilidade e a figura do crítico.  Lampião ganhou o desfile: polêmica na jovem pan.  Tem uma figura de demônio na avenida: o Carnaval é do cão. 'A pandemia veio, aliás,  por causa da pessoa fantasiada de Jesus. Lembram?'

E as redes operam uma dieta interessante: ela precisa de mais conteúdo com menos conteúdo.  O vídeo tem que ser cada vez mais curto. Se fizer textão (feito esse) ninguém vai ler. Mais da metade dos canais do YouTube reproduzem opiniões rasas, quase resumos vindo de fora. Pensa bem: pra quê tu vai querer saber a opinião de um fulano que a gente nem sabe quem é sobre um filme que ele assistiu?

A gente compartilha a matéria sem nem ler o conteúdo.  E o escritor que escreve sabendo que tá falando sozinho? E esse comentário  que não é pra falar sobre a Festa de Momo?

Se você chegou até aqui, imagina a resenha: umas seis velhinhas, a mãe,  a irmã,  as tias e primas. Umas 9 mulheres cercando uma criança fantasiando ela para curtir seu primeiro Carnaval em seu primeiro,  segundo, terceiro dia. Cada dia uma fantasia diferente. . .

Carnaval não é de Deus nem do Demo. Eu vi até um bloco gospel se apropriando dos ritmos africanos, trapaceando na fé.  No Frevo o senhor botou um jovem no chinelo. O playboy passa vergonha nas ladeiras de Olinda se não tiver ligado. Fiz meu balanço. Aliás, balanço é uma música do saudoso Marco Matolli que diz "balanço é a revanche do fraco sobre o forte"... e é mesmo.




PS: texto publicado no Instagram.  No Carnaval de 2023. 


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