Amizade





     Em cada esquina, lanchonetes, bares, igrejas e farmácias. E nada pra melhorar a vida da gente. Lanchonetes para nos fazerem engordar, comer porcaria, gastar dinheiro sem sair de casa. Outro dia, em um ‘happy hour’ com uns amigos me decepcionei. Me iludi. Deixei o celular em casa (propositalmente) e, de repente, me pego falando sozinho na mesa, enquanto sete, oito pessoas, despejavam seus cérebros pela boca com a porcaria do celular na mesa, na mão, na mente desligada. Imagina a pobreza: sair de casa, pegar um Uber, pra ficar numa mesa de bar fazendo o quê? Mexendo no celular. Lanchonetes para nos engordar, bares para ficar preso na internet, igrejas para juntarmos os cacos daquilo que já não somos, daquilo que já não temos e trocar por uma ilusão pós-morte, enquanto o pastor troca de carro ou de esposa (alguns. Muitos. Nem todos para não exagerar. Apenas os milionários que aparecem na TV diariamente e são quase donos do mundo).
     Em todas as esquinas farmácias. Pra nos mostrar o quanto somos doentes, dependentes, frágeis e inseguros. Minha mãe agora, depois de quase morrer por conta do SUS, anda com remédio pra tudo é doença. Deu um espirro: toma esse remédio aqui que é bom! Tiro e queda! Queda mesmo. Cai tudo! Só não cai o valor na Bolsa de quem produz o veneno. O veneno pra mesa, o veneno pro campo, o veneno pro boi que vamos comer e o que a gente vai comprar (tá pensando que é de graça, é? Vai pra Cuba!) pra ficar do remédio que vão lançar no ar um dia desses e matar todo mundo feito essas séries de TV com trocentas temporadas. Remédios para sabermos que não temos mesmo o controle de absolutamente nada. E que papo da porra pra se falar no dia do teu aniversário, não?
     É que eu tava lembrando, já que toda loucura dessa vida louca vida ainda não nos tirou toda humanidade e a capacidade de pensar (a de sentir tá quase indo), tava pensando em tu enquanto via as pessoas ao meu redor, na mesa daquele bar, pagando para as moscas nadarem em seus copos, enquanto babavam em seus Smartphones falsamente coloridos e descartáveis, lembrava daquele vinho que tomamos na praça, eu, você e Ingrid (a maga inorgânica). Um frio danado, tu no refrigerante, e a gente, pra variar, rindo pra se acabar confabulando e conspirando sobre o mundo, alimentando esperanças. Foda-se! No anonimato daquela praça rebatizamos aquela praça. Agora é, mesmo que só pra nós, praça da esperança. E esperança é melhor do que esperar, me disseram.
    Lanchonetes, esquinas, farmácias. . . Isso lá é assunto para se falar no dia do seu aniversário, Heider? Mas é um bom dia de lembrar. Desejar saúde. Que estejas bem. Saúde e música. Muita paz. E por ser você meu irmão gigante, coração enorme que não cabe em texto algum, só me resta deseja feliz aniversário, e mandar um abraço, mesmo que distante.  

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