Numa bela manhã de
semana, o senhor Luís Inácio “Lula” da Silva, ex-presidente do brazil (assim,
com Z mesmo), foi tomar café da manhã com ninguém mais ninguém menos que Michel
Temer. “Que café da manhã mais indigesto!”
“o que será que eles comeram, hein?”. Essas
eram duas das várias e muitas perguntas propícias e pertinentes que eu deveria
(ou poderia) ter feito naquele momento: uma postagem no facebook. Eram umas
sete horas da manhã e eu já tava “ligado” nas redes sociais. Compartilhei na hora a postagem. Ainda botei
“textão” sentando a porrada. Tomar café da manhã com Romero jucá, Jader
barbalho, Henrique Eduardo Alves, José Sarney e Michel temer? Isso não dava pra
aceitar. Não passivamente, não sem soltar os cachorros e os murmúrios nesse
‘infinito particular’ chamado internet. Minutos depois, um comentário. Outro
escravo do celular, muito amigo meu, me respondia irônico: lula e Michel temer
tomavam café juntos, mas era em 2015 ou 2013. Ops! Deu errado. Ta na rede.
2013. “que peste o lula foi fazer na casa do Michel
temer numa manhã de 2013? Num podia tá em casa, como dona Marisa (que deus a
tenha), comendo um pãozinho com leite?” era essa a reflexão, pelo menos
inicialmente, que eu poderia (ou deveria) ter feito. Fiz nada. Nadinha. Era de
um site sério, matéria lida tudinho, texto pensado quase milimetricamente (que
não se consegue conjecturar muita coisa sensata logo de manhã, como o café que
nosso ex-presidente fez) e ainda assim deu merda. E quem nunca caiu numa dessa?
Quem nunca se viu partilhando uma notícia sem saber da procedência? Aí eu me
lembrei de um artigo muito bom, indicado pelo amigo, poeta e escritor Yuri
Rodrigues, infelizmente torcedor do náutico, co-escrito pela Betsy Sparrow,
sobre “O Efeito Google na Memória”. Pois
é; parece que estamos mesmo com uma memória externa ligada todo tempo, bem ali,
pra gente acessar quando e como a gente desejar. É “um mundo inteiro na ponta
de nossos dedos”. “quem diria que a gente ia andar com um computador compacto
em nossa mão?”. É o que me dizem os mais velhos. Mas eu não esperaria nunca ser
traído pelo G1. Tá lá: 12 de agosto de 2015 (ou 2013?).
Como estamos ficando
lerdos, mesmo com tanta tecnologia. É informação pra lá e pra cá, a todo o
momento tem uma mensagem qualquer, de algum lugar do mundo (ou da sala ao lado)
endereçado a você. Não tem atentado algum, tiroteio e quer, morto ou
esquartejado, bombardeio ou piada instantânea que não chegue nesses aparelhinhos.
Aliás, esses celulares de hoje fazem quase de tudo, menos ligação, parece. Seis
em cada cinco amigos lisos meus, incluindo eu, não sabem mais o que é colocar
crédito. Um vizinho meu foi assaltado e perdeu o chip, ficou uns seis meses sem
receber uma ligação se quer, mas bateu um papo com Obama via skype. Na minha infância
isso dava pra ser nome de cachorro. E ninguém se fala mais, seja na rua, no
corredor ou mesmo na mesma cama. “isso é
bom. Já não precisamos mais chegar e ficar dando bom dia pra todo mundo. Daqui uns
dias não vamos nem precisar sair de casa, comer, tomar banho... quanto mais
olhar no olho do outro?”. Isso me foi dito por um amigo meu, antes, livre
filósofo, hoje youtuber. Ele tem 20 pessoas inscritas em seu canal. Sete delas
é da família dele.
“Joãozinho,
tu fez o exercício que eu passei?” Pergunta burra! Joãozinho
assistiu a umas cinco vídeo aula ontem, em casa. Sabe do assunto mais do que
eu. E ele talvez passe o resto da vida dele resumindo. Livro? Já sei o fim. Filme?
Já vi. Como faz isso? Baixa aí aquele aplicativo. A vida agora tem um abridor
de lata. Uma chave só para abrir todas as portas. Que portas? Que chave? É um
botão só. Menos. Pen drive. “Tá tudo na nuvem”. E eu levava umas duas semanas
pra fazer um trabalho de geografia. Hoje não vejo nem televisão. Tem Netflix. E
já me acusam por ainda ouvir rádio. “É no PC, tablet”. . . Não tem jeito. Sou um
idoso perto dos trinta anos. Um lunático. Um alienado. Ainda escrevo no caderno
e tenho uma agenda (de papel) pra me auxiliar. A gente brincava na rua, esperava
o especial da Legião Urbana na rádio pra gravar na fita k7, imaginando como
seria a cara do Renato Russo, uma revista em quadrinhos era uma raridade e um
bom livro, mesmo no sebo, custavam os olhos da cara. Imagine falar, assim,
cinco vezes sem nem pensar, sobre aborto, feto, horóscopo, E.T, câncer no cérebro,
bolsonaro, Silas malafaia e a volta do santinha pra série C.
Mas agora é assim: todo
mundo fala por si e ao mesmo tempo por todo mundo. Todo mundo agora, aliás, é
mais inteligente que o 007 e fizeram de tudo, sabem de tudo, já foram para
todos os lugares, dispensando lâmpada, gênio e tapete voador. A antena da raça
não é mais o poeta. É o meme. Aqueles 15 minutos de fama podem virar segundos. Parece
que tudo veio muito depressa, rápido demais pra gente se preparar pra tanta
velocidade, informação e tecnologia. Parece meu pai, que me deu uma bicicleta novinha,
só pelo fato de eu ter aprendido a andar (penso eu) na primeira vez que subi na
magrela. Era uma Golden Lion, da Shimano. Toda amarelinha e com rabiscos
pretos. Novinha. Não durou um mês comigo. Ter a bicicleta e saber pedalar não
significou nada. E olha que eu nem precisei parar pra “buscar” na rede essa
marca, essa escrita, essa lembrança. Nem ligo se a grafia tá certa mesmo. Lembro
de um tempo em que os melhores momentos eram gravados na memória. As melhores
coisas da vida não precisam, não estão, não vão estar registrados em algum aplicativo
ou na rede.
E o que tem o Lula com
essa história? Vai questionar a carta aos brasileiros de 2002? O manifesto de
fundação do PT, de 1980? A carta de princípios? O código de ética de 2009? O café
que ele tomou em 2013 (ou 2015?)? Nada disso. Talvez tenha sido apenas uma
desculpa pra chamar sua atenção pra essa leitura. Que melhor maneira de chamar
a atenção do que juntar, em um único período Lula e Temer? (se bem que eles já
fazem isso sempre, né? A gente é que num se liga). Talvez você faça como eu fiz
e nem leia esse texto viu a foto, o título, partilhou sem olhar ou fez uns
comentários me chamando de pelego ou petralha. E eu sigo. Tudo por causa de um
café da manhã em 2015. Que será que ele deve ter comigo naquele dia, hein? Em tempos
de rede, nada passa despercebido. E nos faz refletir. Sobre nossas posturas,
nossos cafés da manhã, nossas alianças políticas e as escolhas que fazemos. Em tempos
de crise, a falta de memória ideológica é um mal que agride. Em tempos de
velocidade é o celular ou somos nós que evitamos os olhos nos olhos? É o efeito
Google na memória. “somos realmente eficientes, minha cara Betsy?
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