Quem Banca a Boca que é de Quem?

A Boca começou por uma necessidade ou foi obra do acaso? Não se sabe. Nunca se sabe. Essas coisas a gente nunca descobre ou se conhece de verdade. Verdade muitas vezes é só uma palavra. O que se sabe é que ela, a Boca, nasceu e cresceu aqui. Hoje conhece todo mundo, mora aqui já faz ninguém sabe o tanto e duvido que queira se mudar. A Boca começou pequena, fez uma casa de palha, desenhou um sonho e tomou corpo, e hoje sustenta famílias, banca campanhas políticas, publicitárias, ONGs nacionais e internacionais, policiais, pais de família, pastores, doadores de sopa com a consciência pesada, crianças famintas, aviões, limusines, show business, empresários viciados infelizes, jornais, TVs, revistas, bandas e bandos, cassinos, padarias, homens jovens e mulheres.
A Boca começou por uma verdade ou uma mentira. Mas mentira é outra coisa que também pode ser verdade, dependendo de quem a conta, como se conta e onde se conta. Se for na, TV é pago, e a Boca banca, especialmente se tiver crédito em conta e na conta com quem conta a história ou notícia, que pode ser feia como um escândalo de primeira página ou belo como um sorriso de criança. Se cair na conta vira amizade, e isso é levado em conta. “Consideração é quase um templo” e a Boca tem conta e banca. E é cara. Hoje decide quem morre e quem vive, quem vai e quem fica, quem sobe e quem desce, vira herói ou lembrança. Se for protesto de rua, não mostra, mostra a cerveja gelada, o futebol do domingo, o culto apelativo, o despacho mal pago, uma notícia mal lida ou um escândalo encomendado, o desfile atrasado, a escola de samba, do crime, a criança que clama e a Boca que reclama. Reclama um nome e uma glória, os tempos de outrora, onde a boca era só um vizinho distante, uma página branca, uma coisa de outro mundo, uma coisa perdida no mundo, um filho que ia todo dia para a escola, mas, hoje, parece que não vai mais voltar. Já faz três dias. Vamos ficar repetindo essa vez, essa voz, essa fita, “Deixa a vida me levar?”. Mas, que vida?

Comentários