As fitas K7 que tínhamos



Acho que tenho certo medo desse novo mundo da informação. É tudo tão rápido e fácil. Tão rápido que chega a dar medo. Especialmente pra mim, que sempre me achei um velho, escondido na cara de menino. Um vizinho meu, em sua curiosidade adolescente, “baixou” em uma só tarde, tudo que se podia dos Beatles na internet. Que terrível! Na idade dele eu tinha uma fita K7, gravada de um programa raro numa rádio AM. Pra não ficar de fora entrei na onda dele: baixei vários e vários filmes que alegravam minhas tardes nos anos 90, coloriam minha consciência, numa época onde, na minha turma de escola, não se ousava se quer falar palavrão algum, nem entrar avulso na sala de aula sem cantar, sem boné, o hino nacional, o da bandeira e o de Pernambuco.
A internet é mesmo uma faca de gois gumes. Eu e meus amigos brigávamos para ouvir tal música na rádio, comprávamos as fitas K7 e ficávamos à tarde inteira aguardando passar a canção desejada. Recordo das cartas que minha mãe mandava para certos programas, a família na sala, ouvindo aquele bendito aparelho. E como era bom poder ter em quase todos os momentos uma boa música, um bom momento.
Naquele tempo se imaginava como seria o rosto de cada artista. Disputávamos fita após fita quem completaria sua coleção. Hoje, penso que todo aquele distanciamento entre nós e o artista deixava tudo mais emocionante; a busca pela novidade troca de conhecimento, a proximidade com os amigos, o conhecimento partilhado e enriquecido artesanalmente e um mundo, aparentemente mais tranquilo. A internet veio e acabou com tudo. Criou perfis de tudo e de todos, escancarou de vez as portas, tornou tudo uma prisão. Para onde foram aquelas tardes em que se juntavam os meninos, e faziam á mão, o trabalho da escola pedido? “vc tem e-mail não tem?” agora é assim: a distância trazida pela informação.
Aquele mesmo menino apagou com um simples toque de mão todos os discos dos Beatles. Disse que achou sem graça. Agora ele me questiona e ridiculariza por eu trazer “em mãos” um CD preferido e um livro de poesia. Me olha com reprovação. Não sei. Hoje tudo é tão rápido e descartável, tudo fica velho tão rápido, fora de uso num clic, atrasado num flash, em desuso sem nem mesmo ser usado. O modelo de celular mais recente já nasce atrasado. Descartamos quase tudo. A rede resolve quase todos os nossos problemas. Ela só não foi ainda capaz de recordar os tempos onde às coisas não eram tão descartáveis e velhas, como as nossas fitas, já que em sua programação não existe o “sentir saudade”. Isso também é coisa de velho hoje em dia.

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