Antes do jogo começar. . .
Lá vem o Sport Club do Recife para mais uma partida. Até agora não ganhou nada nesse brasileirão. Apenas um único jogo, que na tabela do torcedor não vale de nada. Absolutamente. Vai jogar com o Vasco, num jogo que promete ser feio, triste e melindroso. Mas o torcedor é crente.
Aí vai o Valdir, meu cunhado. Domingo de noite, um dia chuvoso e ele sai de casa, cente e santo para ver sei time ganhar ou perder. Ele, aliás, tem dois times do coração. Não sei bem o motivo. Nunca entendi esse negócio de torcer para um time estadual e outro time de fora, vergonhosamente.
O Val torce pelo Sport e pelo Vascão. Nesse duelo de perdedores, sangue e morte garantem que meu cunhado, como de costume, vai passar uns três dias de cara feia, e liso, a depender da situação. Eu até entendo essa hegemonia dos times do Sul, e que, antigamente, só se tinha os jogos desses medalhões para assistir nas TVs nossas. Mesmo assim não me conformo. Não é feito filme ou banda, que tu pode gostar e curtir de todo tipo que tu quiser.
Lá vem o Sport para o campo. No alto-falante da Ilha do Retiro, puxam uma palavra de ordem, que a torcida não acompanha. Pela rádio, o repórter afirma, categoricamente, ser essa a primeira vez que vê isso em décadas de profissão. O jogo vai começar.
Intervalo de jogo…
Levanto, passo um café, reclamo do mundo. Penso em mil coisas. O placar do jogo, na moral, não importa. “Envelhecer é igual uma frase que vi, estampada numa camisa: reclamo mas faço”. O jogo nem começou e o Vasco já meteu 1 X 0. Parece até aquela música da banda Dibob. O narrador da rádio jornal precisa pagar seus boletos. Mente na cara dura. Diz que o Sport não está rebaixado para a série B. Eu finjo que acredito.
No Tiktok, vídeo de gente espremendo espinha, ajeitando ferradura de cavalo ou fazendo comida. Qualquer coisa para distrair. O torcedor quer (precisa) acreditar em qualquer coisa: joga sal grosso, faz jejum. Lucas Lima faz um gol. Tira a camisa. Pra quê isso? Pior ainda: na camiseta por baixo, uma frase em inglês falando alguma coisa sobre Jesus. Tudo a ver nesse mundo. Bet, balada, bancada da bala e bíblia. Dizem que foi o Menino Ney quem incrementou essa receita.
O primeiro tempo acaba e reflito sobre a segunda. Dia chuvoso, metrô quebrado, mês de setembro batendo na porta. Luis Fernando Veríssimo nos deixou essa semana. Tudo nublado. Nublado e triste. E eu me pergunto que desgraça é essa invenção de fazer um jogo domingo de noite? O torcedor foi ao estádio para um velório. Só pode ser. 25 minutos e o Vasco já meteu 3 gols.
A gente gosta de futebol pra animar as coisas, ter um assunto para comentar segunda feira no trabalho, se dividir e animar por essa cultura tão importante. 28 do segundo tempo. Escanteio para o Sport. Gol. Já estava quase finalizando a crônica, feito aquele torcedor que ia sair da Ilha, pensando em voltar pra casa. Deixou a avó e a mãe, idosas, para ir ver o Leão perder.
Faz a figa. Pega o terço na mão e aperta quase até sair sangue. Dez e meia da noite e o jogo acaba. Mais uma derrota e eu feito besta, aqui, pegado no rádio. A gente é muito besta mesmo. A gente largou a mão. Amanhã começa tudo outra vez. Daqui uns dias o Sport vai apanhar de novo. E eu nem sei que dia e nem sei de quem. Hoje não. Levanto, pego um café sem açúcar pra arrematar. Será que esse ano Papai Noel vem?

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