Roubaram a bicicleta do seu Flávio



Roubaram a bicicleta do seu Flávio. Foi num dia de domingo. Na segunda, pela manhã, ele teve que ir para o trabalho de ônibus, coisa que não fazia por pelo menos uns dez anos.

Acontece que seu Flávio era muito querido pelo bairro, mais conhecido como irmão Flávio, e fazia anos que só andava de bicicleta, coisa que tinha lhe ocorrido após ter ido a um médico, ouvido o doutor sobre a necessidade de cuidar da saúde. Naquela noite, em sonhos, o senhor lhe revelou que ele teria mesmo de ouvir o doutor. Diabético, fora de forma, e comedor de enlatados e refrigerantes, isso sem contar as quase quatro décadas em que, antes de caminhar pelos caminhos da fé, fumava coisa de três maços do pior cigarro todos os dias.

Flávio conheceu dona Marcela, casaram-se, se converteu, deixou de beber e de fumar e passou a andar de bicicleta para o trabalho, no mesmo edifício que exercia a função de porteiro há mais de 30 anos, onde também passou a ser chamado de irmão Flávio.

Levaram a bicicleta do irmão Flávio no domingo, provavelmente pela manhã, do terraço de sua casa. Ele, na escola dominical, ela em casa lavando roupa. Na segunda feira de tarde os meninos ficaram sabendo do ocorrido, aí a coisa não prestou. Na quarta feira a bicicleta apareceu de novo no terraço de seu Flávio, um pouquinho diferente. Pintada de rosa, sem os paralamas e o bagageiro, mas lavada. Na sexta de manhã apareceu no terraço as partes que faltavam, duas latas de tinta, uma palma de banana e um bilhete pedindo desculpas.

Ninguém perguntou nada. Não era preciso. Bastava ler nas entrelinhas. Irmão Flávio voltou a andar para o trabalho com a sua bicicleta e tudo tava resolvido.


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