Margareth ( ou, o pior emprego do mundo)...




Lá vai ela minha amiga zombeteira. Plena sexta-feira. Pra variar, largou mais cedo hoje. Demitiu mais três. Seu nome: Margareth do oitavo andar, Margareth a ingrata, Margareth a mau amada. Margareth do RH.

Margareth estudou Direito e Psicologia ao mesmo tempo, sendo uma delas pela UNB. Achando pouco, fazia inglês e espanhol no final do dia, duas aulas por semana de cada, além das aulas de dança e academia. Não bebia café.

Casou bem cedo, a megera, e se separou do marido tão rápido, que faziam a piada que, seu casamento durou menos que qualquer série ruim com, pelo menos 5 temporadas. Fez dois mestrados e uma especialização, uma nos estados Unidos, outra no México, e não sei que cargas d’água veio parar no RH de uma empresa meia boca de telemarketing, usada invariavelmente para lavar dinheiro pra empresário durante o ao inteiro, adoecer seus funcionários e manter sempre aceso o farol que guia almas infelizes diretamente para o inferno.

Os boatos sobre os descaminhos da minha amiga megera são inúmeros. Aqui, com o desculpar do alongamento, terei que citar alguns, mesmo que breves:

 A vida da Margarina azedou de vez, depois que ela caiu num golpe do ex-marido. Ficou lisa batendo. Depois de meses na maior fossa, conheceu Gabriela, que se dizia cigana. Caiu em outro golpe. Conseguiu um emprego no RH da pior empresa que ela imaginou trabalhar. Mas foi.

Nos anos que se seguiram, Margareth, a ansiosa, a malcomida, desnutrida de alma e todo tipo de xingamento que se imaginar, sempre vestindo o preto básico, que combinava demais com ela, entrevista novos escravos, ameaçava para seus patrões jovens universitários, estagiários inocentes e demitia, sumariamente, pais de família.

Quase jogou a toalha quando passou a notar que se sentia feliz, meio que se alimentava dos lamentos daqueles pessoas, que deixavam um pouco de suas almas naquela salinha da Margareth melindrosa, Margareth, a triste. Margareth, minha miséria.

O pior emprego do mundo. Arrancar um pouco da vida de outras vidas. Mas a coisa não era bem por aí. Mas sextas-feiras, Margareth passou a frequentar um bar que tocava Heavy Metal, bandas iniciantes de Hardcore quase se estapeavam para tocar meia hora naquela calçada pouco plana e de meio-fio precisando de uma mão de tinta.

Margareth sentava na parte de trás do bar, pedia meia porção de batata frita, uma cerveja semigelada e curtia seu resto de semana indo embora junto com a sexta-feira. Margareth podia até achar que tinha o pior emprego do mundo, mas na sexta feira nada disso importava.


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