A culpa foi do Jão (ou, a fuga do Adalberto)





Aí, primeiro o cantor perguntou se tinha alguém solteiro na plateia. Eu não ouvi direito. Tava muito barulho, casa lotada, acabei levantando a mão também junto com o povo.

 - e quem te levou lá, Adalberto?

-foi o João. A culpa foi do Jão.

Aí começou a música, aquele barulho tudinho, aquele calor da mulestia. . .

-Aí tu tirou a camisa, Adalberto?

-Foi. Tirei a camisa.

-Mas por que você precisou ficar rodando ela e pulando, Adalberto?

Tinha muita muriçoca, amor. Tinha que espantar elas. Aí o som continuou, aquele calor só aumentando...

-Aí foi quando tu começou a tomar as cervejas, Adalberto?

Foram só umas duas, amor. Não passou disso. E elas nem tavam tão geladas assim. Não eram nem daquela marca que a gente gosta.

-Adalberto, era um show evangélico, Adalberto. Onde que miséria tu foi arrumar cerveja gelada no meio da pregação, Adalberto?

-No espetinho. Lá fora.

-Lá fora, Adalberto? Tu pegou um UBER para o outro lado da cidade, Adalberto. Ainda me fez pedir.

Então, amor. Disseram que sabiam onde conheciam “o melhor espetinho de frango com bacon do Brasil”. Eu tinha que conhecer, amor.

-E essa tua ia pro espetinho tinha que demorar três dias Adalberto? Três dias? E tu foi com quem, Adalberto? Com o João?

-Foi o João que me levou, amor. Eu juro. Ele é nosso padrinho de casamento, amor. Não convém deixar ele andando por aí sozinho.

-Adalberto, João tem 93 anos, Adalberto.

-Mas ele precisa ver as coisas amor, se distrair um pouquinho.

-Adalberto, o João é cego, Adalberto. Que danado ele tem que ver, Adalberto?

Aí Adalbert pega suas coisas, ajeita tudo numa bolsa e sai.

- Tu vai aonde, Adalberto?

- Ali, amor. Eu vou ali.


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