Amendoim...

 



Seis e meia da manhã no metrô do Recife, novamente estação Joana Bezerra. Quarta-feira. Lá está um jovem vendendo amendoim. Vamos chamá-lo de Pedro. Pedro deve ser casado, tem cara de crente e tá sempre sorrindo dando bom dia para todo mundo. E ele deveria oferecer um curso de “como conseguir transitar dentro do metrô do Recife justamente pelas seis da manhã sem se machucar”.

Você já deve ter esbarrado com o Pedro pelo metrô do Recife, sem dúvida. Já deve ter visto (e vê) Pedros, Marias, Joões, Gustavos e Augustos espalhados pelos metrôs do país, seja levando baculejo da PM, bala perdida da PM, vivendo de gato pra garantir no barraco, talvez, uma geladeira usada e uma TV velha.

Mesmo dia. Dez e meia da noite. Eu votando pra casa depois de um dia de trabalho ferrenho, tacanho e pouco miraculoso. Existe muito cansaço, muito sono perdido, muita roupa amarrotada e livros lidos com pressa entre transformar o mundo e pagar os boletos que insistem em combinar com o gás de cozinha, que só acaba em pleno domingo em meio a feitoria do almoço.

Dez e meia da noite e lá está ele: o Pedro. O cara deve ter passado o dia inteiro entre um vagão e outro levando não de gente apressada e estressada. Aquele pacote de amendoim deve ser o almoço e a janta de muita gente ali. Já foi pra mim. O amendoim é a síntese da complexa realidade de todos nós: alimenta o pobre trabalhador, que puxa dois reais em um metrô recheado de trabalhador sendo morto cada dia um pouco, ao mesmo tempo em que alimenta, talvez, a família de um outro trabalhador.

O metrô é esse contraste entre o pesaroso e o bizarro. Dez e meia da noite e Pedro vende seus últimos três pacotes de amendoim do dia. Um senhorzinho puxa umas moedas do bolso. Ele conta. Olha para um vagão semilotado e solta um desabafo: “larguei!”. Desce na estação Afogados e segue. Amanhã vai ser outro dia...


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