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João Jogador. Era assim que era conhecido no bairro da Várzea. Todo mundo dizia que ele seria o novo Rivaldo do futebol pernambucano.  Que nada! João terminou se tornando um péssimo contador de histórias.  Daquele tipo que só conta vitória,  sabe? Como diz o outro, só acha. Não perde uma.

Peladeiro de fim de semana, tomador de Brahma morna, João foi descoberto logo pelo maior fofoqueiro do bairro: Diego Maradona. E quem foi que disse que homem não fofoca? Pior ainda: esse nosso Maradona, de craque, só tinha mesmo o nome. Nunca tocou numa bola. Prestava nem pra ser gandula.



Foi nessa pegada da vingança que o menino magricela, revoltado por vida e com uma tatuagem do Maradona no braço,  que não parecia com o craque verdadeiro nem de longe, resolveu se vingar. Motivo não tinha. E precisa de motivo pra lascar a vida quem não se vai com a cara?

Maradona descobriu que o dito atacante não tava nem pra um reserva de zagueiro, daqueles tão ruins que não servem nem pra bater um lateral direito. João tinha resolvido cercar dona Emília,  dona de um salão de beleza e manicure do bairro.



Parece que João Jogador tinha pedido dona Emília em namoro,  isso quase quarenta anos atrás e ela teria dito que iria pensar. Isso aconteceu no Clube das Pás,  que, obviamente,  dispensa qualquer tipo de apresentação minha, é óbvio. Três dias depois a resposta tinha vindo num sonoro, colorido e alegre sim, escrito em letra de forma e tudo e borrifado com perfume só para agradar.


Coitado do Jogador. Driblou o zagueiro, tirou só goleiro e meteu a bola pra fora na cara do gol. João ficou foi com medo. Passou quase uns trinta anos juntando coragem pra falar com ela e agora o camisa nove resolveu atacar. Que vergonha!


Maradona espalhou na Várzea toda que o jogador só tinha se atrasado algumas décadas, mas, se o professor escalasse ele todo mundo ia ver que ele ainda tinha pique. Pense numa confusão. Jogador agora era chamado de bola murcha na boca miúda, 7 X 1, reserva de luxo ou Gol da Alemanha.  Jogador depois que pintura a chuteira vive de cantar histórias.  Até as que nunca viveu pra variar. 

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