Devolvam meu São João (com juros)

 




Esses dias tem circulado uns vídeos de artistas defendendo a Cultura Nordestina no São João e polêmicas envolvendo cantores sertanejos. Não é de hoje que isso acontece. A cada novo São João surge uma nova polêmica envolvendo a arrogância de algum artista sudestino com algum com artista local, geralmente ocorrendo em nossas festividades locais.

Uma mistura de conservadorismo por parte dos artistas locais, levantando uma bandeira que parece pertencer só a eles, a espetacularização nas redes  e a revolta do público,  que é mais por bairrismo do que defendendo propriamente um idealizado e romantizado São João que, na real, não existe.

Acontece o mesmo processo com outras expressões populares. A chamada Festa disso ou daquilo virou um grande negócio que precisa ser defendido por quem vive financeiramente dele e agora faz parte da agenda anual das redes. O São João Nordestino, o Carnaval de Rua, o Bumba Meu Boi... que fazem as pessoas que necessitam desses festejos para sobreviver o ano inteiro?

Temos o Carnaval Multicultural do Recife,  polos descentralizados nos bairros populares,  gente vendendo cerveja e água para alimentar seus filhos e as quadrilhas junina, as fogueiras gigantes nas cidades do interior, as rodas de conversa assando o milho... As expressões culturais reais estão bem distantes dos contratos com empresas para vender ao mundo a imagem de nossa enorme força popular.

A Verdade é que Prefeituras,  Governos estaduais e empresários locais decidem por nós e impõem aquilo que a gente deve aceitar nessas datas. Que fazem os músicos,  artesãos,  educadores, cantores quando passam as programações dos calendários? A gente só escuta Frevo apenas 4 dias por ano. O apego pelo milho e pela fogueira só é bonito em junho. Gonzagão só ainda é Rei porque ele praticamente inventou nosso país.

A verdade é que as escolas não falam sobre aquilo que é nosso, as rádios não tocam os antigos ou os novos forrozeiros e só sentimos orgulho de nosso pedacinho de chão quando alguém pula nossa cerca e estraga nosso jardim. Fora disso a gente não tá nem aí.  Por educação,  por vaidade, por ausência de formação e utilidade daquilo que somos.

Os cantores de Sertanejo Universitário,  seja lá oque isso significa, invadem nossos palcos exatamente por acharmos mais belos os ornamentos do quintal alheio. O Forró vai acabar? O São João vai morrer? Nem tão cedo. Tirando o tom alarmista que vemos todo ano nas velhas novas redes sociais e a polêmica que dura 3 ou 4 dias, a vida segue.

Aí o Flávio José vira notícia nacional e o país descobre que ele é um dos maiores compositores de nosso país e um gigante ilustre desconhecido.  Tipo aqueles tesouros que a gente guarda só pra gente e fica esnobando quando vê um desses artistas que não sabemos nem o nome, conhecidos mais pelos escândalos de lavagem de dinheiro do que por suas músicas que não dizem coisa nenhuma e não falam sobre nada.

O São João não precisa ser devolvido. Ele nunca foi tirado de nossas mãos. Esse negócio de devolvam nosso São João é apelo para ganhar comentários ou defender patrimônio privado, orgulho próprio ou um cachê que, sim, deveria ser mais alto. Mas nossa Cultura Popular não vai morrer. 

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