Quando falamos que existe uma cultura do estupro na sociedade a gente logo escuta que isso não existe. Uma definição, mesmo que introdutória sobre Cultura, ajuda. Em sua 'Dialética da Colonização', Alfredo Bosi define: que “Cultura é um conjunto de práticas, técnicas, símbolos e valores que são transmitidos de geração em geração, garantindo assim a reprodução do que chamamos de coexistência social”.
Não existe sociedade sem a Cultura. Assim, infelizmente temos que registrar que existe uma 'Cultura' do estupro, ou seja, uma série de situações, comportamentos, atitudes e posicionamentos que reforçam, naturalizam e perpétua esse que é um dos piores tipos de violência contra as mulheres.
O termo cultura do estupro vem sendo usado desde os anos 70 e é importante reforçar que, se é uma cultura, logo, não pode ser encarado como algo natural mas pode ser extinto, já que a cultura é produto da sociedade.
É triste e revoltante ver algumas posturas como torcedores se colocando ao lado de acusados de estupros como no caso de Cuca, Robinho, Daniel Alves e outros. Nesses casos não bastou serem condenados pela justiça. Os argumentos são os mesmos: "Se ela estivesse em casa não passaria por isso!", "Mas também, olha a roupa que ela estava!", "aquele não era um lugar onde uma mulher decente deveria estar!" ou então um simples e direto "a culpa era dela!"
As pesquisas infelizmente mostram justamente o contrário: a maioria das violências ocorrem dentro de casa. Estamos falando de pais, maridos, irmãos, espancando, estuprando, violentando as mulheres. Isso sem falar na violência psicológica. Aí vai um Senador tentar fazer uma cena diante de um ministro para justificar, de forma hipócrita, um posicionamento violento disfarçado de religioso. E recebe muito apoio.
É preciso educação nas escolas, bairros, igrejas e famílias, combater nas redes a desinformação sobre o tema e proibir posturas e discursos de ódio. Um 'jornalista' diz ao vivo que, 'se sua filha for estuprada lhe daria uma surra'. As clínicas de aborto estão espalhadas por todo país.
Quem tem dinheiro paga, quem não tem morre. E as filhas, amantes e casos indesejados de pastores, políticos fazem o procedimento com todo conforto e segurança, enquanto as filhas dos pobres, sem dinheiro ou conhecimento sobre educação sexual ou direitos básicos das mulheres são vítimas de métodos abortivos violentos.
O assunto é grave e deve ser de todos e todas. Longe de ser apenas um tabu, uma polêmica ou uma questão de fé. E a cultura do estupro continua. Infelizmente para nossa vergonha.
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