Banalidade. . .



Entrou no bar da esquina. Isso por volta das seis e meia da manhã.  Se dirigiu ao balcão,  pediu um pingado com dois pães assados com queijo qualho frito. Ao notar a estranheza da dona do estabelecimento, teve que se explicar. Pingado era como chamavam o café com leite em São Paulo.  Notaram o sotaque do rapaz. Tudo bem. Um pingado com dois pães assado com queijo pra ele.


O tempo estava meio nublado. Tem três dias que ameaça chover. E nada. A senhora ligou o rádio.  Tocava Paralamas do Sucesso naquela hora. Será que vai chover? Umas seis ou sete pessoas no bar naquela hora. Três senhores jogando dominó, esperando mais um. Duas mulheres catando feijão para o prato do dia. Um jovem escrevendo alguma coisa num caderno de capa preta, mal encostando no café que pediu.


O rapaz termina seu pão com queijo,  vai até o banheiro,  olha na rua uma, duas vezes e volta para o balcão. A senhora me vê aí outro café desse. Tá bom demais esse trem. Ajeita o boné.  Ele tem olhos castanhos e cabelos lisos. Pediu a conta. Pagou em dinheiro.  Deu R$13,50 tudo.


Tirou um celular do bolso, viu a hora e saiu. Antes, deu o troco para um pedinte na calçada. Um menino chamado Cosme. Não fazia mal a ninguém.  Ficava só ali. Quando conseguia alguma coisa ia embora pra casa. Diziam que ele era especial.  O moço se esticou todo, deu um sorriso, agradeceu pela comida e saiu.


Duas lojas na frente um carro para. Seu Bernardo se abaixa, coloca a chave, levanta a porta de sua loja de ferragens e entra. Dois minutos depois, aquele jovem,  entra na loja de ferragens, ouve-se um barulho. Dois ou três tiros. E ele saiu caminhando pela rua calmamente. Lá na frente fica o pátio da Feira. Do lado da Feira fica o terminal das lotações pra Floresta, Flores, Afogados, Triunfo, Tabira,  Custódia.


Ele poderia ter ido pra qualquer canto. Nunca mais foi visto por esses lados. Pagou em dinheiro e com um sorriso.  E isso é tudo o que sei e tudo que posso dizer, seu doutor. O resto é contigo. O senhor é a lei. 

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