Até amanhã, Will...





Aquela foi a última vez que encontrei meu amigo Will. Era uma sexta-feira,  quase meio dia e eu ia visitar a senhora minha mãe. A gente reflete como somos ingratos de certo modo. Já reparou: filho só visita os pais na hora do almoço, quase meio dia. Chega, compra aquela Coca Gelada ou um galeto pra 'intera' e chega na maior cara de pau.

Aquela tinha sido uma semana pesada.


Eu conheci o Will de longe. A gente tinha se conhecido na escola. Ele devia ter uns doze anos quando ingressou no grupo de teatro da escola. E como deu trabalho, meu Deus! Pra compensar trabalhou o mesmo tanto.  Era nosso xodó. Naquela sexta ele estava uns 10 metros na minha frente. Cansado, não quis adiantar os passos para alcançá-lo.  Não conseguiria. Chega uma hora que a idade nos alcança de fato. Inevitável.  


Will estava acompanhado por duas pessoas. Com um enorme guarda chuva ele se protegia do sol. Fiquei de longe vendo aquela figura mítica conversando com amigues. Estávamos trabalhando numa peça autoral,  dispensada por uma amiga minha, professora, que decidira não usar o texto pois ele não tinha pegada que ela queria. Ao reler o texto não tive dúvida: isso é coisa pra Will. E ele feito algumas críticas e observações tão pertinentes acerca da obra que não tinha melhor pessoa para ficar com ele.


Naquele dia não consegui alcançá-lo. Poucos dias depois recebe pelo 'zap' a notícia do assassinato do Will. O motivo: homofobia.


A gente aprende que a sociedade é cruel, que a vida é um sopro e que a gente acaba, infelizmente,  se acostumando com a tristeza,  já que ela mora em nossa vizinhança e bate quase sempre sem pedir em nossa porta. Will teve registrado pela imprensa que era professor de teatro e arte educador.  Um misto de dor e alegria naquela homenagem forçada. Que merda, Will. Uma confusão com teu nome e dessa vez a culpa não foi sua, nem você está aqui pra comemorar junto. Tu não faz ideia do arrependimento de não ter tido só um pouquinho mais de força para, nem que fosse pra rir da tua cara.  

Não é sempre, pois teu amigo é falho, lembro de tua presença naquele dia, se espalhando pela rua toda. O mundo foi teu Will. Tomado muito rápido, é bem verdade.




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