Hoje em dia a coisa funciona mais ou menos assim: antes de um filme, uma peça ou um 'disco' chegar ao grande público já chove nas redes sociais milhares de comentários. Quase aos berros, 'críticos' e comentaristas de última hora descorrem sobre os motivos para ver (ou não ver) aquele referido produto. No YouTube um canal qualquer reage a um trailer de mais ou menos trinta segundos sobre um filme que vai ser lançado, se Deus quiser, na segunda metade do segundo semestre de dois anos pra frente. Não sei quem é o cara. De onde ele vem, quais suas credenciais para se autointitular 'o crítico honesto', mas ele tem mais de meio milhão de seguidores em seu canal, apesar de me soar como uma série de copia e cola de vídeos estrangeiros.
O advento do celular serviu para transformar todo mundo em críticos de cinema, técnicos de futebol, cientistas políticos, filósofos, pedagogos e antropólogos. Fala-se de tudo, sobre tudo e de todo jeito, enquanto durar a validade do post.Jogaram fora a figura do crítico de arte. Antes era apenas a caricatura de chato ou repugnante. Hoje é a certeza de que uma opinião, mesmo que embasada, não tem valor algum no universo do senso comum disfarçado de discurso raso.
Eu lembro de ver as filas intermináveis nos shoppings para ver o capítulo final dos Vingadores. Um filme terrível. Pobre ao ponto de ser esquecido ao dobrar a esquina. Uma série de clichês e recortes de bons roteiros de quadrinhos misturados num triturador para vender brinquedos e camisetas. Mas não é isso que vai ficar na minha cabeça.
Eu lembro de ver minha filha de pé, com os olhos arregalados, chorando de raiva por ver sua personagem preferida morrer ou ser morta. No outro filme ele tinha trocado de personagem preferida justamente por esse motivo. Eu lembro da diversão da ida ao cinema e os comentários na fila pra pipoca, a conversa sobre o enredo na volta pra casa.
Você não precisa ser um crítico de Internet. Não precisa postar qualquer coisa ou comentar só pra não se sentir por fora. Você não é um crítico de arte. Você é público e também faz parte, nesse processo, ser honestamente enganado. E daí se o filme dos Cavaleiros do Zodíaco não vai seguir a obra original frase e frase? Você vai ao cinema pra levar seu irmão mais velho. Rir com ele das brigas e brincadeiras que vocês faziam no tempo da infância. Quem se importa se daqui vinte anos alguém vai lembrar do filme de herói de número quarenta e sete que lançaram nesse ano?
Essa baboseira de 'o melhor crítico é você' não passa de uma grande besteira. Vale mesmo nesse tempo de produtos com prazo de validade cada vez mais curtos, pelo menos, se divertir.
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