Antes do jogo. . .







Essa história realmente aconteceu.  Sexta feira de manhã,  antes de mais um importante jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2022. Seu Antônio abriu sua lojinha de roupas mais cedo naquele dia. Queria ver o jogo. Bolsonarista, fez questão de colocar um uniforme da Seleção da Ucrânia logo de frente da loja no lugar da esperada camisa 10 canarinha. Lá pelas nove e meia, aquela agonia: precisava tirar água do joelho.  Quis o destino a feliz coincidência do jogo da Seleção cair em plena sexta-feira meio dia. O movimento na principal tava daquele jeitinho.  Do lado de fora da loja, Tenorinho,  também conhecido como ‘pé de cemitério’, parecia ter mais mercadoria em seu carro de mão do que quando ele chegou.


Tomate, cebola, batata, coentro. Dois reais cada pacotinho.  E quase nada de saída.  Repolho, cenoura, pimentão. “Vem aqui Tenório; tu fica de olho aqui pra mim enquanto eu vou no banheiro rapidinho?”. O movimento tava tão forte que pé de cemitério teve a impressão que ele podia demorar o tempo que precisasse.  Número um, dois. .  . O costume não deixava. Trinta segundinhos e tava resolvido. Nesse meio tempo, um barulho. O bebo Aroudinho passou rápido e deve ter dito alguma coisa que Tenório não ouviu ou, se ouviu, não ligou. Dez horas da manhã,  nem um vento passando naquela que era a principal rua do Comércio de Ponte dos Carvalhos.  Aquele sol. Seu Antônio nota um cheiro de mijo subir nas suas narinas. Não tinha outra: Aroudinho tinha feito xixi bem no pé do manequim com a camisa do Brasil.  Pior que isso: Tenorinho tinha nem notado. Tava nem aí.  


- Puta que eu pariu! Tu passa e mija bem na minha porta, Aroudo Felix? 


- Foi ele não,  seu tonho!


- Tome no seu cu que você é muito é um babão! Deixar entram aqui, levam tudo e tu nem pra me chamar serve!


- Tome no cu você! Tu vem botar uma porra de uma camisa da Croácia na frente da loja bem no dia do jogo com a Seleção! 


- Não sou obrigado a torcer pela Seleção!


- Vem cá,  tu num é crente, né? Que tanta boca suja é essa cheia de palavrão? 


Enquanto os dois trocavam elogios, Aroudinho, bebo que só a peste, fazia a volta na rua e mijava de novo na entrada da loja e saia rindo,  descendo a ladeira com  seus dois dentes superiores faltando e sua camisa da Seleção estampada atrás pronta pra guerra: bolsonaro 22. 


 

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