Essa pandemia nos
obrigou a aprender e anexar em nosso cotidiano, nosso repertório e vocabulário
novas palavras, alguns hábitos e rotina. A própria palavra pandemia é algo
relativamente novo. Ninguém imaginava que a gente iria acordar um dia e estar
dentro de um filme de terror, tendo o próprio presidente como vilão, uma
espécie de filme, um apocalipse zumbi onde ele, sim, o próprio presidente, faz
de tudo para matar milhões. Semana passada, uma manhã inteira na fila da casa
lotérica, e escuto os assuntos mais variados do dia. Erra quem pensa que o povo
não fala de política. A mesa do bar pode até não ser o lugar mais seguro e
adequado para tratar de temas como economia e, na falta da mesa do bar vai a
fila no banco ou da casa lotérica mesmo.
Entre os assuntos mais
comentados, a decisão de Sergio Moro é ou não igual “ao cachorro do presidente”. Cachorro, aliás, é um dos piores
xingamentos que um indivíduo pode receber aqui no Nordeste. “bolsonaro? Aquilo é um ladrão!”. “além de
ladrão é corno!” “já repararam que ele tá sempre com aquele negão por trás
dele? A mulher dele ninguém vê, mas o negão”... E seguem os debates,
falando sobre religião, futebol, a demora da fila, filosofia. . . Nada nessa
respectiva ordem. Cinco senhoras sem máscara a minha frente, e dois
adolescentes conversam sobre mulheres. E é incrível o anexo das novas palavras
em seu vocabulário. A palavra da vez é Lockdown:
“comigo tem essa, não véi! Eu disse a
ela: vacilar é Lockdown! Tem
boquinha, não!”. Final da manhã, duas contas pagas e cinqüenta conto à
menos na carteira, e escuto a nova palavra de novo. no banco da feira um senhor
de idade, que deveria estar em casa uma hora daquela, reclama que o tal do ‘loquidau’ iria ameaçar seu comércio.
Na farmácia pediam cloroquina
pra misturar no café, colocar no mamão, beber como se fosse água. Clo-ro-qui-na. Trava língua para o
presidente. bolsonaro, aliás, desconhece algumas palavras: em-pre-go,
cul-tu-ra, bio-di-ver-si-da-de, au-to-no-mia, ci-ên-cia... Mas dizem que ele é
muito bom em outras: Ra-cis-mo, ma-chis-mo, ho-mo-fo-bia. . . e que, graças ao
ministro da educação da semana está aprendendo outras: di-ta-du-ra,
pa-ra-le-le-pi-pe-do. Eu tenho uma amiga
de nome Adrenalina. Sério. Esse é o nome dela. Adrenalina, aliás, é uma moça
muito calma. Não sei, me veio essa recordação enquanto eu ouvia os pais e mães
de família morrendo cada dia um pouco, madrugando nas filas da Caixa econômica,
enquanto o presidente passeia de “Jet ski”, outra palavra que não passa nem na
porta do pobre e nem o auxílio do governo cobre.
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