O Robô do bem. . .




Meu mais recente amor, minha alma gêmea, meu crush nas redes chama-se Neide. Dona Neide. Um dia, antes da quarentena, antes da milésima fake do presidente pelo ‘tuite’, antes mesmo desse atual apocalipse, eu recebo um convite gentil em meu Facebook. Era Dona Neide. Comunista, nerd, professora, moradora do Sertão pernambucano. Foi paixão cibernética quase que na primeira vista (ou seria curtida?) os dias se passaram e logo o meu amor, Dona Neide, passou a compartilhar gentilmente várias das coisas que eu compartilhava. Até nas coisas mais banais e os exageros. Mas, como a medida do amor é não ter medida, ainda mais na internet, não me importei. Quando ela me enviou um convite para entrar num discreto grupo de apoio ao jornalista Glenn Greenwald não me importei. Estava apaixonado. Não demorou muito e logo “neidinha” estava me apresentando vários de seus amigos, agora meus irmãos, no face.
Mas o amor tem que ser uma via de mão dupla. Quando Neide passou a ignorar minhas mensagens pelo direct, nossa relação passou a ser abalada. Tivemos nossa primeira briga, nosso primeiro desentendimento. Coisas da paixão. Numa tarde de um entediante feriado, um bolsonarista foi falar mal do Lula em uma as postagens de meu amor. Mesmo sem ser ele lulopetista todo, claro, sai em sua defesa. “vá estudar, seu fascista!” era um de meus argumentos, além dos mais clássicos. Nosso amor estava avivado, salvo novamente. Protegido. Não demorou novamente para voltar a receber (agora dezenas) de convites de seus amigos. Todos parecidos comigo. Todos de esquerda, todos engajados, todos compartilhando e comentando sempre as mesmas coisas, sobre as mesmas coisas e as mesmas postagens. Aquilo mais parecia um coral bem ensaiado e eu sentia orgulho de viver numa turma daquela. Bastava um ‘bolsomínion’ aparecer para eu ficar quietinho. Logo um dos meus mais novos amigos surgiria para defender minha honra, clamar um Lula Livre e mandar o bolsonarista estudar novamente. Como era bom estar naquele time.
Mas como a vida é tão curta e a web mente. Aliás, essa rede que jogam na gente, não é daquelas redes prazerosas pra se deitar. Essa rede é uma teia que te prende, engana e sufoca. E como foi triste descobrir a verdade. Michele, amiga de longa data, desconfiada de minha ausência no mundo real, pesquisou rapidamente pelo passado biográfico de ‘linda Neide’. Neide, que se dizia professora, moradora antiga de Floresta, nascida e criada pelas bandas do meu Sertão, simplesmente não passava de uma fantasia fantasiosa, uma ‘pala de butico’, uma fakenews das mais odiosas. Neide nunca, jamais existira lá por aquelas bandas. Como me doeu o coração. Dias e dias, horas e horas excluindo e bloqueando amigos fantasmas, robôs esquerdistas, anti-bolsonaristas com prazo de validade. Quanto desilusão a minha.
Hoje, já sem facebook e ainda uns duzentos amigos falsos como o amor de Neide, me recuperei. Faço caminhada, vou a igreja regularmente, arrumei um emprego meio período e estou até pensando em entrar para a academia. Ah! Conheci uma linda mulher outro dia desses. Mulher de verdade. Ela não usa facebook nem tem ‘tuiti’. Hoje eu soiu feliz. Neidinha foi só uma fase ruim em minha vida. Algo pra poder lembrar que é errando que a gente aprende. “eu sou a universal”.  

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