Notícia de Jornal





Havia um improvável casal. Namorados ou amigos? Não se sabe. Tem vezes que essas coisas não importam muito. Encontram-se todos os dias numa velha praça, no meio de lugar nenhum. A praça é meio do caminho para os dois. Ela era linda. Dessas mulheres que parecem ter o mundo dos homens a seus pés. Ele, coitado. Parecia não ter ninguém. Ao passar dos dias foram se conhecendo e, ele, a conquistando. Ela, ao que tudo indica, se apaixonando também. Mesmo assim, diziam os olhares curiosos, ela não dava o braço a torcer. Parecia ter medo de vacina. Nunca se entenderam.
Certos dias: conversa, beijo, carinho. Ela? Nada a dizer.  Certos dias: “o presente é pra ser vivido por completo!” “amanhã podemos não estar mais aqui”. Ele: inconfundivelmente apaixonado. Ela meio que nem aí. Num belo dia de chuva (se é que existem belos dias de chuva), ela, meio atrasada (havia demorado um pouco para se vestir), passa pela praça sem notar uma presença. Ele não estava. Sem ligar para o motivo, volta pra casa. “talvez tenha sido a chuva”. . .
Ao passar em frente à casa dele, dias depois, lágrimas e flores. Ele baleado pelas costas naquele dia, em plena manhã de chuva. Nem sempre há coisas tão belas para se dizer.


(1998)

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