Amália vai pra rua...




Foto de Suhellen Siffy, fotógrafa e comunicológa
( https://instagram.com/suhellensiffy?igshid=1hqy488yhg60x)


Não se assustem. É só uma homenagem para uma amiga corajosa. Num belo dia de domingo Amália colocou uma ‘beca’ bonita, um vestido de bolinha amarela bonita e foi pra praça. Caiu na vida. Enfrentou o mundo sem rumo. “A Praça Sá Moraes, de Belmonte é logo ali”. E ela saiu de boa e de bobeira. Não foi pra missa ou pro culto. Não foi tomar sorvete nem paquerar os ‘boyzinho’ de moto andando em círculos na praça, exibindo suas camisas piratas da Zattini, Centauro ou Hering. Nada disso. “Sair de casa por tão pouco? Pra quê?”. Amália saiu de casa, em pleno domingo de manhã, pois decidiu viver, decidiu sorrir, decidiu que, naquele dia, mesmo com Belmonte não merecendo seu sorriso pouco incompreendido, ela sairia. Simples.
Não tomou sorvete, mas tomou sol na cara. “Vitamina C”. Não deu bola pra “nenhum otário soltando a mais nova gracinha da moda”, mas riu de um cachorro que saiu correndo pela rua, todo molhado, depois de um banho de mangueira. Passou cerca de trinta e seis minutos na praça, tirou uma foto (pra ela) com seu vestido novo e depois voltou pra casa. Hora do almoço. Fosse pra igreja, Amália? Não. Não fui. “a morte se esconde atrás dos templos. Tudo é vaidade”, passou pela sua cabeça. Mas não externou. Quem era Amália? E esse vestido de festa? É aonde? A festa era dentro da cabeça dela, sobretudo nela. Sobre tudo. Sobre tudo, mesmo!
-“Cês acham que é fácil sair de casa em pleno domingo de chuva no Sertão?” e quem disse que o céu tava azul? Quem disse tudo tava bem? Quem disse que era tudo bonito? - “Cês acham que é fácil sair de casa, qualquer dia desses?” e quem disse que não foi o poeta, o escritor, o amigo de longe que pintou com uma tinta bonita essa situação? Quem sabe não é tudo uma desculpa para escrever sobre tédio, sol e chuva? Será mesmo apenas tédio? “bota a cara na rua, galega. Mesmo com essa rua não te merecendo nem um pouco!” aí Amália decidiu sair. Sair e só. Sem mistificações ou crenças. E eu, amigo, feliz, de longe, comemoro que a minha amiga não cabe nesse mundo tão mesquinho chamado planeta terra. Me preocupando à toa, feito besta, me esquecendo que Amália não é nem desse mundo. Desse planeta sem flores. Esquecendo que é preciso palavras para dizer que Amália é algo pra lá de uma estrela. 

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