De Despedida. . .




Eu esperando passar um problema que julgava, até então, passageiro. Não deu. A solução foi omitir uns verbos, usar alguns sujeitos junto de alguns pronomes de tratamento. Na mente, alguns pensamentos. Pensei: “palavras são só palavras. Sempre as uso. Sempre as usei. Por que agora não as tenho quando mais preciso?”, mas parece que, aos poucos, a gente vai se perdendo em nosso subconsciente, falamos aquilo que não devia, mostrando tudo aquilo que não há e morrendo. Sim. Morrendo aos poucos pra variar.
Esperei passar um problema que até então eu não tinha. Que era passageiro. Fácil de esquecer. “aonde vim parar depois daquele fim de tarde?” era tudo tão tranqüilo ao redor de mim. “as margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”. E o meu? Quem ouviu? –“vossa alteza está aborrecido?” pergunta alguém, de uma forma brilhantemente polida. –“os Lusíadas é um poema épico?” meu coração não tem como, polidamente, responder. E eu nem gosto dos Lusíadas. “todos sabemos que cada brasileiro é um técnico de futebol?” isso está bem meio incompleto. Eu vi com os meus próprios olhos o fim do mundo, o fim de tudo. Vi a espera e a esperança passarem despercebidas pela multidão. Vi um amigos se perdendo, indo embora na distância. Vi aquilo que não queria, nem quero lembrar que há nessa tão repentina e imatura vida. Vida e morte. Morte e vida. Que excelente esse triste fim.
“O futuro partiu dessa data para uma melhor”, revela o anuncio. Pra onde foi? Uma melhor. Pra onde? Pra cima. Décimo Quinto Andar. A cama olhava pra mim naquele dia. Me chamava pra roncar. Tudo estava rodando, crescendo, olhando indiscretamente pra mim e eu, rindo à toa depois de uma grande festa com os amigos. Meu pensamento deixou de ser aquele rio subterrâneo. Aquele bonde, com suas pernas coloridas já não mais existem. Um grito áspero saiu de mim, não se onde. É o fim. Parecia um dia daqueles em que a gente sabe que tem a certeza de que vai morrer. É duro de dizer. Duro de admitir. A partir de amanhã não brinco mais de boneco.  Acho que Cresci.

(2002)

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