Dani é aquela amiga que o tempo levou, mas as redes sociais trouxeram de volta. Dia desses, volto pra casa, passo um café e, ao “ligar” meu perfil em uma dessas redes me deparo com uma curta mensagem dela, curtinha, me desejando um Feliz Natal, um Próspero ano Novo e me dizendo que iria se mudar. Dani e eu estudamos todo o ensino médio juntos. Depois, quase ingressamos juntos no ensino superior. Eu fui. Ela ficou. Cresceu, arranjou um emprego, deixou o cabelo crescer, passou a ir ao cinema e como sempre gostou de música, tratou de curtir os melhores shows possíveis de se ver. Agora ela vai se mudar. Sair da casa dos pais. Tomar conta de si e fazer o que lhe der na telha. E me mandou uma mensagem pequena, querendo talvez, conversar.
A verdade é que estamos
tentando (sem sucesso, devo dizer) nos ver faz um bom tempo. E a notícia da
repentina mudança me chegou como uma espécie de aviso de emancipação, de
libertação, e de felicidade. É, Dani. Chega uma hora em que não dá pra se viver
sobre o mesmo teto de nossos pais. Ter um espaço seu é mais. É poder deixar
aquela toalha molhada jogada na cadeira da mesa, adiar o momento de lavar
aqueles pratos da lasanha pronta que foi o jantar da noite passada. Mas
cuidado! Você agora se liberta da ditadura do arrumar o quarto e dizer as horas
da volta. O regime do explicar pra alguém quem é o seu futuro namorado, a
perversa lei do fone de ouvido ou até mesmo o “vai dormir que é tarde”.
Dani se liberta da
ditadura dos pais para cair na ditadura das contas, a ditadura do aluguel, do
contrato do aluguel e da dona do aluguel. A pior coisa desse admirável mundo
novo são as contas: As contas são
pássaros que chegam. Não se sabe de onde e pousam no teu bolso, tiram às vezes
teu sono e o teu cochilo. Quando ficas lisa, eles alçam vôo como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto. Alimentam-se um instante em cada teu tostão e
partem. E, olhas, então, essas tua carteira vazia, no maravilhado espanto de
saberes que o alimento deles já estava em ti. . .
Morar sozinho
representa a liberdade de falar sozinho e não ser chamado de doido. Por essa
fase você, sem dúvida irá passar. E não se acanhe. Lá pelo dia 15, 18, pode
arrumar uma desculpa para ir visitar os velhos. Não é feio. Esse novo regime
não é bem uma ditadura. Tá mais pra uma democracia burguesa disfarçada. Sua mãe
ainda vai te ligar pra dizer que você está muito magra ou seu pai, querendo
saber com quem você está namorando. Parece que o pai só se preocupa com isso,
né? É não. É que não ensinaram a eles as coisas do coração. Ser sensível.
Morando sozinha você vai começar a perceber isso. Sentirá até pena deles. Por
isso não se acanhe quando te chamarem pra ir lá pra almoçar, buscar uma carta
que chegou para você, ou mesmo quando lhe parecer inconveniente. Nunca é
inconveniente. Afinal, nada se compara com a comida de mãe. Nada. Nem aquela
pizza de R$15,00 que vende ali naquela esquina, e sempre tem promoção e dá até
para pedir pelo “zap zap”. Se acanhe, não. Você agora é livre. "Amar é mudar a alma de casa".
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