Aí a música parou. Aquela
música que fica em nossa cabeça o dia todo e todo dia. Aquela música que não se
vai, mesmo na correria do dia; ela fica tocando ao fundo, sussurrando em meio
aos problemas da vida, as crises econômicas ou o fim de sua banda favorita. Mas
a música está ali, toda hora. Ao menos deslize, e lá estamos cantarolando a
bendita. E ela pode ser qualquer uma. Pode ser um rock dos mais bregas ou um
pagode sincero. Não importa. O homem,
chamar-lhe música, não passa da mais pura verdade. Mas a música parou. E era
perto, por volta do meio dia, no meio de uma fila de um Restaurante
Universitário lotado de barulho. “Não se
separa, com vírgula, o sujeito e o verbo”, me diz o corretor idiota. Mal sabe
ele que não há gramática alguma quando se passa pro lado da poesia e do amor. O
amor, aliás, é capaz de acabar até com a música. E acabou. Pergunta se eu
lembro qual era a que tava tocando naquele dia? Nem sei. Tocava uma toada
atual, meio Caetano Radioheadiana. Sei
lá! Algo assim, só pra tirar uma onda comigo e com a cara do amigo Sebastião
Neto, que jura ter encontrado a melhor banda da vida de todos os tempos.
Mas a música parou. Esbarrou
no sorriso de Camila e, de repente, já era fim de tarde. Salto no tempo e, em
dias, estamos voltando a pé, conversando. Pra ser sincero, não lembro sobre o
quê. Nem me pergunte, mas não era sobre o Radiohead,
Street Spirit, Nude, Fake Plastic Trees nem Creep algum. Nada. Não há música diante do sorriso de Camila.
Camila, aliás, passou a ser a música do meu dia, mesmo que cansativo ou
perdido. Umas letras, como as do Beto Guedes, para explicar quem somos em famosos dias de chuva. Mas chuva,
irremediavelmente também serve para abrir os caminhos, resolver os toscos problemas enquanto ela ia e falava horas e mais horas sobre todas coisas, que se passavam sem chamar nossa atenção. E é mais do que um
sorriso; é a certeza de uma vida. É um levantar mais cedo só para cumprir o
ritual do Renato: gostar de ver você
dormir, correr por causa da chuva, roubar emprestado seu par de meias, chegar
atrasados no cinema. . .já que o mundo sempre foi complicado e há música,
mesmo quando não se há música, para explicar teu sorriso sério, teus olhos de
esperança, abraços futuros e um caminhar inteiro pela frente e a gente de mãos dadas,
comentando quanto é maravilhoso o tom e o timbre do Emílio Santiago.
Ela agora fez trinta. E
quem disse que trinta rima com triste? Tem isso não. Trinta rima com andar de mãos
dadas e assistir filme. Levar Alaninha na praça, rir das coisas mais simples. Sentir
orgulho de nossos amigos, como a Lidiane, que jura que juntou a gente. Deixa acreditar
nisso. “sabe de nada, inocente”. Quem
nos juntou foi a música. Essa que não me recordo agora. Tirei os fones de
ouvido e devolvi o sorriso. Aquele que não tenho certeza se foi eu, se foi meu.
Agora não importa mais. Somos um só sorriso, multiplicando vários, ecoando
muitos, metamorfoseando em outras coisas, rimando canções, versos, versões. . .
Como uma foto que não se tira, um perfume que não se recupera numa memória,
como um show de Carnaval lotado, mas ao mesmo tempo só nosso com tudo. Aí, do
nada, a música para. Como um brinquedo de parque, um carrossel da vida urbana,
um ônibus pra voltar juntos pra casa, chegar de onze horas e quarenta e cinco
de segundas as sextas, mas sorrir ao ouvir a Gau cantarolando aquela música de Caetano Emmanuel Viana Teles Veloso e (se não me engano)
Carlos Casacuberta Guemberena: “Baby. . . baby. . .I Love you”. Era essa a música. Eu num falei
que eu iria lembrar?
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