Abraça tua mãe forte hoje, filha.
Amanhã pode haver chuva, saudade, pode também não amanhecer nessa cidade. Alisa
a testa suada de quem chegou agora da rua, da luta, de quem esteve fora uns
dias construindo um amanhã melhor, mas (por você) não parou de desejar os teus
sorrisos. Amanhã haverá rugas, manchas,
cansaço, marcas do tempo irremediáveis, mas ainda assim será sua. Amanhã o
coração palpitará mais lento, é verdade (não pela medicina), porém as lágrimas,
muitas, já terão sido levadas, a maioria, pelo vento. Abraça tua mãe forte e
pede que ela fique mais um pouco. O que são dez minutos, se lá fora há o perigo
e o medo de ir encarar sozinha essa tempestade?
Repara nesses cabelos brancos,
hoje parcos. Amanhã aumentarão conforme a dança da vida, a valsa do tempo, o
violino do relógio que não cansa, mesmo sem pilhas. Sente como é cheiroso; se
emaranhas nesses fios e pede que fiquem. Sente esse perfume. É teu. Passado dela
pra ti pelos seus seios, do dom de te ver crescer ali dentro em sua barriga,
ventre inchado, dores e receios. Perfume passado pra ti pelo esforço e tantos sonhos
de te imaginar chorando, chamando seu nome, falando “mamãe”. Aproveita. Amanhã
será tua vez de fazer esses carinhos em outro ser, que te lembrará tua mãe.
Abraça tua mãe hoje, filha. Ela sente
saudade da outra que te possibilitou nascer. E hoje não é um dia comum, não é
uma hora tão fácil. Em meio a tantas notícias de tragédias, misérias, cansaços,
o felicitar e o desejar “um feliz dia” também lhe trazem
lágrimas. Hoje é dia dela também procurar oferecer esse mesmo abraço, mas não
tem mais ninguém para oferecer. Só as lembranças. E elas doem. Agora esse
abraço é só teu. Mas compreende de onde vem e para quem são essas lágrimas. Elas
são repartidas com um mundo. Há também sorrisos e amargor nas lembranças, mesmo
que escondidas.
Então abraça forte tua mãe, Alaninha, pois, quando
chegar tua hora de retribuir esse carinho, aquela sensação de ter feito a tua
parte vai te trazer um ar mais puro depois. Uma sensação de paz e, quem sabe,
amenizar o nó na garganta, nessa mistura de lembrança, alegria e cansaço.
Beija o rosto jovem de tua mãe hoje.
Isso não é vaidade. A perca só se sente
e só é medida quando se perde, e não há trena nem dosímetro, calculadora nem
fita que meça dor tamanha. Não há filósofo nem poeta que transpire, traduza,
transmita ou remeta tal situação.
Não há palavras, apenas soluços quando se
olha para o lado e não há maneira alguma de terminar aquele assunto, mesmo que
banal, inacabado: “lembra daquela vizinha”, “aquele vestido azul”, “aquele restaurante
que gostávamos bastante?” agora é só seu. Uma lembrança apenas sua e
uma dor que não se cura, uma ferida que não cicatriza, que não se fecha. Por isso
abraça tua mãe hoje, filha. Pede pra ela dormir contigo, a teu lado. Coça a
cabeça dela. Mima. Faz um cafuné mesmo que tu ainda não saibas. Fala como foi
seu dia. Reclama do teu pai pra ela. Elogia tuas tias. Lembra quem foi tua avó.
Ela vai se sentir tranquila.
Pergunta se
ela está bem. Diz que a ama. Não importa se mil vezes. Aquela piada que te
contaram na escola, mostra pra ela. Aquele teu caderno de desenho, guarda. Leva
ela para tomar sorvete na praça, mesmo que seja ela quem pague no final das contas.
Tira muita foto. Com ela, sem ela, com o celular dela, com o celular dos outros...
fazendo careta, dizendo bobagem, fazendo birra, dormindo tarde, conversando com
a amiga. Cantando e fazendo fita. Fala pra ela sobre teu namorado, teus
projetos futuros, o nome de teus filhos, teu cachorro, a cor de cabelo de teu
futuro marido. Tu acha que ela já não sabe? Aproveita. Tu só tem essa e é toda
tua.
Amanhã
não se sabe.
♥️♥️♥️♥️♥️♥️
ResponderExcluirTotalmente verdadeiro e 100% emocional. Mãe a melhor coisa que à na vida de um filho!
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