Reconstruir...


Que grande poder possui esse ser chamado Palavra. Há que se ter todo tempo do mundo para se debruçar em busca de um parecer. Dias. Anos. Séculos de filosofia para se definir ou desenvolver um conceito que se aproxime, seja pela prosa, verso, política, lágrima ou poesia. Talvez tenhamos que chamar os mestres (tens a chave?), colher o dia, modificar todo o mundo, regar de sentimentos esse imenso jardim que é a vida.
Palavra. “Que grande potência a vossa!”. As palavras e o tempo. As palavras e o mundo. As palavras e o dom de modificar sem se iludir. Construir. Edificar. Erguer novos mundos. Organizar. Formar. Conceber. Fazer do nada (haja luz!) honrar e ouvir aquele que põe a mão no barro, que tira o sustento dos seus, que cria e alimenta seus sonhos do barro, que faz a vida renascer...
Construir. Ato ou efeito e fazer. Coragem de por a mão na massa. Reproduzir e sobreviver, crescer e multiplicar, encher a terra, somar votos, abrir urnas, cativar a atitude de querer viver e ver. Construir é nascer, renascer, parar pra pensar, bisar na bola, começar de novo, tentar de novo, reconstruir, transcender.
Reconstruir é preciso. Viver é preciso. Sonhar é preciso, assim como é preciso o argumento do relógio, o elogio da chuva, a reflexão da poça d’água em uma tarde branca, o cheiro de terra molhada depois de uma manhã de chuva, o preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã do poeta das ruas.
Reconstruir é preciso. Como o carinho da lua para com os namorados (inimigos da pressa), o elogio do vento, o mudar a rotina quando a rotina nos cansa e o amor se faz triste ou quando bate a fraqueza. Reconstruir. Quando o lutar é ausente e quem está na frente, de frente, pede trégua. Quando a guerra é guerra e o comando está sem semente.
Reconstruir. Começar de novo. Pode ser do zero, reformar os sonhos, o prédio, o apartamento, a casa de dentro e de fora (“amar, mudar o coração de casa”), a sede de fora e a sede dos olhos, a sede da vida e todos os projetos empoeirados de outrora. Reconstruir. Juntar os argumentos da vida pesados no tempo. E pra se viver é preciso sonho, é preciso coragem, é preciso que não tenhamos medo, preguiça de ir dormir tarde e de acordar cedo. Reconstruir. Uma volta ao começo? Talvez não. E “é preciso plantar no chão do céu da boca verbos à flor da pele”, pois não se cria futuros com apenas um par de mãos.

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