Mudança




Acabo de me desfazer (jogar fora) um monte, daquelas que foram, um dia, minhas coisas. Por hora, um imenso vazio aflora pela rua afora. Perturba o peito uma vontade calma de chorar por horas, pelas horas. Ir embora. Remover as tralhas, buscar no escondido, mexer em sentimentos que voltaram uma imagem antiga guardada num antigo espelho desconexo. Não sei se posso chamar de “pilha de lixo”, agora que o vejo mais de perto, como antes. Uma pilha de passado empírico. Sentimentos.
Cartas de amigos, recados, coisas de menino. As poucas admiradoras secretas não parecem tão secretas assim. Cadernos, recortes de jornais, cifras, revistas, gibis. Um pequeno mundo meu ali dentro. Todo ele. Ora primeiro cartão de inscrição para um vestibular, coisas de gente grande. O jornal do grêmio da escola, um dos primeiros poemas rabiscado a lápis, aquela apostila de história de 2001 falando mal do Stálin, recordo que nunca gostei mesmo dela, o panfleto de um show da banda Catedral, a Xerox do guia de episódios do Yuyu Hakushô, o pôster dos Beatles, tanto etc. incrível como o tempo passa e insistimos não notar.
Dizer que possuía uma coleção de fitas K7 E VHS, SÓ NÃO FORAM MAIORES QUE AS DO MEU IRMÃO E DOS AMIGOS DELES. ESSES SIM ERAM VELHOS. TUDO AGORA É PASSADO E EU PASSANDO A LIMPO. SÓ ME RESTA ESCREVER. “O MUNDO MUDOU”, DIZIA A CAPA DA REVISTA E A NARRAÇÃO DO SENHOR DOS ANÉIS, EU TINHA NA FITA. AGORA JOGAVA O PASSADO NO LIXO, REMEXIA AS LEMBRANÇAS, ARGUMENTAVA SOZINHOS E COM OS SONHOS, UMA CONFUSÃO COM MEUS PESADELOS E MEUS SONHOS. E QUEM VAI ENTENDER TODA ESSA POESIA, ESSE MOMENTO TRATADO EM VERSO, ESSA MELANCOLIA, SE EU APENAS DIZER QUE ERA EU ALI NA FRENTE COM UMA SACOLA NA MÃO?

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