Fevereiro, vá pra casa...


Guardaria seu Carnaval, se não fosse tão tarde. Preencheria seu vazio, colocaria em primeiro plano seu sorriso só pra te fazer sonhar mais tarde. Por ser seu o carnaval ascenderia todas as luzes da cidade, iluminaria seus pés, seus cabelos, seu olhar distante, aquele seu vestido azul, e, do mundo, a metade. Pra fazer seu Carnaval durar dois anos e uma metade, abraçaria seu sorriso calmo, aguardaria seu rosto alvo, guardaria o mais belo “bom dia” pra te fazer amanhecer.
Sequestrei inteiro todo o Carnaval de Recife e Olinda e te ofereci num buquê. Tudo pra te cantar em flores, um som lindo de espelhos e sem dores, banda de pífanos, maracatus, frevo-canção, prosa, poesia. Você linda naquele vestido azul, segurando a minha tremula mão e a ciranda girando, girando, girando e o céu sem querer escurecer. Já não precisa segurar minha mão com tanta força, as ruas agora são sua, cada ladeira perfumada e limpa pra você se fartar de tanto correr. Já não temos medo de assalto ou bala perdida, solidão ou entardecer. Um Carnaval puro só pra mim e pra você.


Você deseja sol de domingo a domingo? O Marco-Zero vazio e lotado, repleto de boas sensações. Você, eu e um só coração. Já não importa se é seu ou meu. É nosso! Vamos dividir cada sensação, definir e decifrar os sabores. Nossos braços ligados já não conseguem mais reverter tais sabores. Guardaria pra você o Carnaval, se já não fosse tão tarde. Passaria mais de mil anos sem usar o orelhão. Mas o sonho é o avesso, e hoje é inverno verdadeiro: eu olho tua foto, relembro teus anseios, recordo teus beijos sem achar solução ou teu perfume. Lamento então. “Vai embora Fevereiro!”.

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