Amorzão na madruga, e de quem é culpa, é do Seu Madruga?


- “Amor, tudo bem? Desculpa te ligar uma hora dessas, é que aconteceu uma coisinha interessante hoje, e eu gostaria de te contar”.
(Quando a sua namorada, mãe, irmã ou amiga diz que deseja “Contar alguma coisinha interessante”, pode esperar).
- “Nada amor; pode falar. São só três e meia da manhã, eu num tava dormindo mesmo!”.
- “Que bom, amor. Vc tava pensando em mim? Tava? Diz que sim, vai”...
(Ela utilizou aquela frase do “Chaves”, e como eu adoro o Chaves, mesmo que seja uma frase do Chaves dita de 3 e meia da manhã).

Agora ela me pergunta se eu estava sonhando com ela, e é claro que estava: acordei às 5 e meia da “mamãe”, comi um pão dormido com uma margarina meio velha, um café sem açúcar, peguei um busão lotado, tomei um “baculejo” da polícia, derramaram refrigerante na minha camisa, o cobrador ficou com o troco, levei outra cantada do negão da padaria e me diverti, ah, sim! Me diverti naquele odioso trabalho que me paga uma porcaria. - “Professor, “DAR” é verbo?” - “Pergunte pra sua MÃE, meu filho!” é o que dá vontade de falar, mas eu não falo nada! A escola deveria educar, mas não serve nem mais como esmola! - “Tio, Fulano de tal pegou meu Tablet!”. - “Devolve o Tablet dele, Fulano de Tal; isso é feio!”. Mas eu não ligo; não digo é nada mesmo! O governo confunde dar um Tablet com acesso à educação, dar livro com ensinar a ler e a contar, dar farda e tirar foto pra propaganda de televisão com “mudar o mundo”, enquanto essa pequena ilha chamada escola vai ficando mais invadida pela corrupção. -”KD o dinheiro da merenda, o salário digno, o combate ao crack e a prostituição que ocorre dentro e fora de nossos muros, será que não estão vendo”? É só ligar a TV e logo vemos o caso do Renan Calheiros, o BBB, a novela das 20, das 21, das 22 e das 2 da manhã... E, falando em 2 da manhã, essa foi à hora que me acordei HJ cedo: corrigi prova, assinar diário de classe, pensar uma nova maneira de prender a atenção de meus doces alunos (a ideia de ontem foi boa, deu certo. Durante uma aula e meia eu pude prender a atenção deles, antes de ocorrer aquele tiroteio). Agora tenho que descobrir uma maneira nova, pra mais um dia de guerreiro. Camões não me disse que assim seria; num mundo de versos e inversões, saber usar as figuras de linguagem, muitas vezes até ameniza.




- “Tava pensando sim, meu bem”...
- “Olha, hJ eu fui aquele casamento de minha prima, e, advinha: Peguei o buquê que ela jogou em minha direção, quase sem querer. Foi tudo tão lindo, tirando minhas tias solteiras que não me deixaram levá-lo pra casa, tirar uma foto, mostrar pro meu amorzão”...
(Definitivamente não entendi bem o que ela quis me dizer: buquê, casamento, minha prima, tias solteiras, tempo, compromisso, presente, lista de convidados, padrinhos, despedida de solteiro, “obrigado por ter vindo”, “não tem de quê”. Minha mente estava um pouco atrasada para supor o que se sente.).


- “Vc pegou o buquê? Que é isso? É de se comer?”.
- “Não amor, deixa pra lá”! Vc nunca me entende!
(Talvez não entenda mesmo. E agora ela vai passar duas horas e meia me contando como eu não consigo decifrar as coisas mais lindas, as frases mais bobas, os carinhos ditos mais discretos que ela u dia me ousou contar... e não sabe ela, que assim que o dia termina, ou quando ele começa, faço questão de pensar seus olhos, imaginar como foi seu dia, torcer pra que chegue logo a hora do intervalo da “briga” pra gente poder se encontrar e brindar um pouco, a nós, a luz, a vida. Ela, talvez, não saque, mas dá pra entender cada pensamento seu fixo, cada ideia vaga, cada entrelinha que ela insiste em me contar... e duas horas e meia depois e não me escondo nem me atropelo).

- “Amor, eu entendo tudo que VC tá me dizendo; eu sei que VC deseja, eu sei de tudo que VC quer me falar: Vamo pro cinema sexta?”.

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