Amor de Rodoviária





É na rodoviária, perto de um lugar chamado “lá longe”, onde nossos sonhos e caminhos se encontram. Não sei dizer. “Nada não, foi só a estrada, a calmaria, à distância, essa triste lembrança que me fez esquecer”. E o dia inteiro passa, como uma nuvem branca. “Onde está você?”. Tudo aqui me faz perder. Outro dia foi o amigo de infância, o irmão mais velho, a vizinha da frente, a professora, aquela loira linda da outra rua e o político chato, a pastor pirado, o padre engraçado, o carteiro viado, o velho bebum, o menino que me chama de “nego safado” (coitado, só tem uns 4 anos) e o torcedor do Santa, do Sport, do Náutico, do Serra talhada...todos se enfrentam, se batem, se cruzam na rodoviária. Como é parado aqui. A rodoviária é o lugar mais triste e mais agitado dessa deserta cidade.
É na rodoviária onde as coisas se transformam ou se perdem. Meninas namoradas se decepcionam, mudam suas preces. Namorado que deixa namorada e sai com outra, de mãos dadas com o mundo, enquanto, lá dentro, o coração parece não bater. A rodoviária é a partida e a chegada, a consolação daqueles que não tem destino, que saíram de casa sem ter hora ou dia de ver o dia nascer. E a estrada é a melhor amiga, guarda segredo de todas as vidas, te ver chegar menino, sair um homem, sem te esquecer. Nós é que a esquecemos, algumas vezes. Esquecemos os amigos, a chegada, as horas perdidas e marcadas. Ela nos prende de um modo sinistro, simples e cínico. “Não se vá!” disse alguém. E adianta dizer nada? A rodoviária é a partida e a chegada. A redenção de um começo de dia que vira madrugada. A rodoviária é a perdição e o desencontro. A rodoviária é a nossa vida e a nossa casa. A rodoviária é tudo. É o lugar mais agitado, mais movimentado e mais triste que tem aqui. A rodoviária é um mundo à parte. E vai você dizer que não, tentar insistir.

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