Noventa e sete, Maria, e a chuva





Quando a distância atrapalha um momento simples pode ser tomado como algo novo, simples, fora do lugar. Lembro que choveu aquele dia todo. Os versos do Drummond, que nunca saem da cabeça, caiam: “Maria... chovia”...
Antes costumava andar por ai, sem preocupação alguma. Se era longe o caminho, não importava. O que valia era contemplar o fim do dia; e, apesar do cansaço, a distância servia para por um fim em quase tudo, algo para se lembrar nas horas vagas, e Maria sempre ali, “chovendo em tudo”.



Maria: pura perfeição, capaz de prender até o poeta, a rima, a prosa e a música. O universo inteiro. Maria: palavra criadora de divisão. Capaz de dizer e de sentir tudo, respirar ofegante fundo, prender toda a atenção. “A distancia atrapalha!” Dizia que não.
Lembro que choveu naquele dia. Vinte e nove de maio de mil novecentos e noventa e sete. Eu ainda tinha nove anos. Ainda não conhecia Drummond, Maria, musica alguma... mas lembro que choveu.e choveu bastante.choveu muito. E ela levou você.
Ainda hoje, quando acordo cedo e olho o tempo, percebo a chuva, me pergunto se vale a pena viver com tanto medo. Maria. Ela chovia em mim. Ainda hoje chove. Rio caudaloso transborda; travessuras. Coisas de menino. Não há mais medo. Maria está aqui. E, qual era mesmo, a musica que você cantarolava naquele dia, cedo!

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