Amanhã irá chover por sua causa, seu Chico





Reparo, nessas horas, no quanto o mundo é ingrato e o futuro cheio de surpresas e contratempos, seu Chico. Escrevo agora com calma; sei que vou ter que reescrever, o mesmo texto, mais tarde, uma 45 vezes. Tudo que eu te disser não vai ficar nem à altura de sua pessoa e de tudo que você representa aqui. Recordo as inúmeras vezes, os muitos momentos, os vários sorrisos, espalhados pelas casas de milhares de brasileiros. Eu, menino, sentado no chão de barro batido de mina casa, amparado pelo aconchego da presença de minha família, esperando o começo da “escolinha”. Como eu morria de medo do “Galeão Cumbica”. Criança é assim mesmo, seu Chico. Tudo besta. Quem disse que eu entendia tudo que se dizia ali!




Anos mais tarde, novo encontro. Dessa vez foi meu pai: ele e sua mania de deixar uma fita VHS gravando a programação noturna da TV. Num desses raros momentos de lucidez na TV, você recitava um belo monólogo no programa do Jô: “Maldito mundo moderno!” que era aquilo! Pensei. Meu pai deixou de possuir aquela fita pra sempre. Mais tarde estava recitando o mesmo monólogo por ai, dividindo aplausos com o senhor, seu Chico. Se há eternos, que dirá de você!
Ai então, dias atrás, olhando qualquer besteira na internet, escutando poemas de Ascenso Ferreira, na sua voz, me vem à notícia de que o senhor, seu Chico, resolveu partir, desaparecer. “Somos todos insubstituíveis”. Foi o que você disse, mas o que fica é a lacuna, o buraco que se torna cada vez maior, que será (talvez) por coisas sem sentido, sem conteúdo algum.
Se a coisa ficar feia eu te ressuscito, nem que seja num de seus livros. Te faço passar, pelo menos, mais duzentos anos por aqui, nesse mundo ingrato e cheio perdas, seu Chico. “Esse mundinho merda” mesmo.

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