I
Onde eu nasci, as pontes e rios
passeiam nas veias das gentes
e as palavras são abruptas
como as pedras, calçadas do mar.
Nas ruas multiplicam-se fios
ligam-se eletricidades e mentes
as classes dominantes são corruptas
e proíbem o povo de amar
O porto vomita jangadas e navios
pretos velhos cultuam antecedentes
as festas são ininterruptas
e a ressaca se cheira pelo ar
Nas praças de mendigos e vazios
Vez por outra megafones estridentes
Denunciam explorações estúpidas
e a noiva da revolução vem celebrar
II
Cidade revolucionária e valente
que se vale de seu modo carinhoso
pra encantar o forasteiro facilmente
Outrora império rico e poderoso
há quem a chame de senhora decadente
há quem confie em seu povo generoso
dizem que em suas vias indecentes
corre o sangue jovem, audacioso
dos que ousaram e foram resistentes
e esse povo feliz e buliçoso
que canta, que dança, que é vida que sente
torna nosso Recife esplendoroso!
III
O Recife tem um cheiro de saudade
que se sente pelos becos e vielas
tantos morros e tantas paisagens belas
nas lembranças da minha pouca idade
repentinamente estou a lembrar
de estórias contadas no escuro
das conversas, ao pé de nosso muro
das risadas gostosas de se dar
pesa em meu suburbano coração
a ausência tão presentes delas três
cada uma com a sua emoção
a incorruptível sensatez
a linda, fervilhante turbilhão
e o maior amor, cheiro de carinho e maciez
José Lucas, 1 de agosto de 2012
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