Para ser completado







Deixa ir, quase vencido pelo sono, chamado pela chuva, lembrar de teus cabelos, encostar minha mão na tua, assim simplesmente se saber, sem notar, sem dizer quase um sussurro, só pra não te deixar partir jamais, nunca te deixar chorar ou se perder na curva que a estrada (que eu criei) faz.
Se a distancia existe a culpa não é da chuva ou do algo mais

Deixa chegar, de noite, em claro, e ficar te olhando dormir, ou num fim de tarde sem remorso, moça, e seus cabelos penteados.



Um amigo meu me disse que é Deus quem lhe dá forças para levantar cedo e ir trabalhar. Perguntei: "E quem paga seu salário?"
Ele me falou que é ELE quem lhe dá saúde para agüentar o vai-e-vem do “busão lotado” toda manhã, e questionei: “quem dirige o ônibus”? Quem faz o almoço, limpa a casa, deixa a cama pronta? Quem é que compra o pão na padaria, quem faz o pão na padaria, quem é que rouba a padaria quase todo mês, de tarde? Ele não me respondeu absolutamente nada. Disse que os olhos “Dele” estão em todo o lugar, que sabe de tudo, que um dia tudo vai melhorar...
Ai perguntei: “se Ele é tão grande assim, e sabe de tudo, criou todos e tudo, por que não acabou com a fome, com a escravidão, com o desemprego?”.
“É por causa dos pecados do próprio homem”, quis me explicar... Mas, e ai? Quem foi que criou o Capitalismo, o dia do fim, todas os índios extintos nesse país, as crianças marcadas para não dormir, para não ter paz, quem criou a África? Ele não me falou.

Acho que comecei a escrever por me sentir sozinho. Mas foi por meio desse, a princípio, passa-tempo (não tão doce quanto aquele biscoito) que pude perceber que, na vida, algumas coisas ficam e outras voltam como ventos, trazendo consigo um tanto de novo e de velho: o aprender. Particularmente creio que as palavras assustam a principio; depois amenizam, suavizam, deixa tudo um pouco mais claro e calmo, como a luz da lua depois de uma chuva da boa. E passei a rabiscar algumas linhas, meio tímidas, só por riscar.
Lembro de meu primeiro texto “corrido”, o primeiro trabalho meu que tive coragem de mostrar para o mundo, (pra mim, a amiga Dani, a quem admirava e contava minhas peripécias no mundo da paixão adolescente, com direito a tombos e quedas, risos e momentos. Parecia um filme daqueles bem trash): A aliança. Texto bastante confuso sobre um cara que, em um dia bastante importante, acaba perdendo o objeto em questão, e no final, tudo virava verso! Era assim que eu via o mundo, penso hoje. Mostrei o texto a ela, esperei ansiosa a crítica/visão daquela que (acreditava) era detentora de completa sabedoria para, se não jogar um teto no lixo, torná-lo tão eterno quanto qualquer mito. E assim o fez: guardou o rascunho, divulgou (pra nós dois mesmo) minha capacidade de “emaranhar palavras” e depois, um bom tempo depois, publicou em seu blog meu rabisco mal-acabado. Como me emocionei. Depois ela apagou o blog e me deixou no vácuo, mas não importa agora; ela me fez feliz pra sempre por ser essa grande amigo-crítica que na vida encontrei.
Um pouco mais bem tarde decidi colocar em rede tudo aquilo escrevi. Na verdade queria me livrar de todo aquele peso de mexer com palavras, analisar verbo a verbo, palavra por palavra, colocando-os em algum lugar-comum que não só me pertencia: criei um blog raquítico, mínimo, magrinho, pra caber meus verinhos de beira de estrada. E isso não se deu da noite pro dia! Inspirei-me numa pérola de uma grande escritora, hoje amiga, a Bianca Dantas. Exímia na tradução do sentimento humano de estar no mundo. Organizada, didática e dramática, seu blog me inspirou/envolveu a também, de certa forma, jogar meus versinhos e improvisos no mundo da internet. Queria eu ter toda a técnica dessa grande poetisa. Eu não! Escrevo no vácuo, no mais movimentado barulho, na maior alegria de um fim e tarde de uma quarta-feira de cinzas num Carnaval do Recife/Olinda.
Depois de dois ou três versos, poeminhas jogados timidamente, e angariar uma meia dúzia de leitores/críticos/visitantes engordei meu espaço-tempo, imaginei outros tempos, critiquei meio mudo de poetas opacos da pequena burguesia e criei meus versos em pleno sol-a-sol e de luta com o povo trabalhador. Não acredito em “arte pela arte” e só! Defino a luta de classe em cada verso meu que não volta vazio, e sigo. Assim se cria em cada dia a ideologia do povo trabalhador: o socialismo.


Não há, sobre hipótese alguma, arte pela arte. Fazer arte pelo mero prazer/vontade de fazê-la é iludir-se, enganar-se, cair num completo estado de enganação própria. Nossa sociedade é dividida em duas classes antagônicas, e como sociedade classista que é, defini-se na luta diária, cotidiana, ferrenha na disputa da difusão, bem como sua adesão das grandes massas, de sua ideologia. A classe trabalhadora produz sua própria arte; constrói ao longo de sua história suas características próprias, sua visão de mundo, sua alma cultural e artística. Por outro lado, a classe dominante, a burguesia lança também, seus costumes, ritos, e todo seu aparato na tentativa de expandir sua dominação, e a cultura se coloca, como outros e outros elementos, nesse cabo-de-guerra pelo espaço e domínio.

O Facebook deve ter feito um pacto com a alma do "Caio Fernando Abreu!" Um monte de gente lê, lê de novo e novamente. Espalhasse as frases dele por tudo que é lugar! É o cara da moda nessa nova forma de ler/ver o mundo! Acho interessante essa nova forma de literatura; mas, me vem uma pergunta simples: E onde é que está o conteúdo dele? Pra mim ele sempre foi uma água com açúcar, um miojo pra tapear a fome da alma, uma literatura enlatada, pronta pra consumo, do tipo "agite antes de beber", "já vem adoçado". Um "kisuque" para as mentes poucos dispostas a se arriscar na incrível viagem de um livro, denso, obscuro, mesmo que de poucas páginas. A verdade? Não gostamos de ler. E a internet ajuda! É a extensão da sociedade (isso já não tem como se discutir), é o braço lento e lerdo, que move um prato vazio cheio de palavras, mas sem sentido que valha pelo menos a pena, que faça a diferença, que muda alguma coisa no ser.
Anderson Santana (Vulgo carioca) está lendo José Saramago; ótimo! Uma grande amiga minha acabou de me dizer que não vê a hora de ler o livro da Ana Maria Braga ou o Paulo Coelho ou qualquer "livro fácil' desse ai, do tipo piada-pronta, Harry Potter, Lya Luft, Hilda Hilst, ou qualquer baboseira repleta de fórmulas, não só para nos entreter (quem dera), mas para nos alienar, nos tornar passivos e bobos, e para vender livros que não nos servem.

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