Lugar...ligar...







O telefone não tocou novamente...
Se fez tarde o triste sonho de agora então. Era um rádio embaixo do braço, só pra acreditar. Agora, basta a espera. Foi à chuva ou o carro, foi comprar o cigarro, foi esperar, quem sabe, outra ligação. Será que fiz por menos? Tudo na sala milimetricamente arrumado, a vela na mesa, o vinho gelado, o quarto arejado, o ventilador de teto, o abajur de flores, a toalha de renda, e aquele quadro com uma paisagem no corredor...
O telefone não tocou novamente...
Talvez seja melhor apagar, de vez, a luz da casa. Nessa noite fria de terça, não vai mais haver motivo algum. O jantar preparado com calma será comido sem gosto e sem graça. O “meio discurso” agora se acaba. Nem deu tempo de ajustar o volume do Tim Maia ou o nó da gravata posta.
-“Ela não vai ligar. Deve ter ficado trancada em casa, passado direto, errado de lugar... Saído mais cedo, com outro cara, outro jantar”... Agora sua alma se encontra na solidão.
O telefone não tocou novamente...
Chegou uma mensagem “desculpe” incompleta.
-”Não sei se me atiro ao sofá ou me jogo no tapete da sala”.
Agora o Djavan toca, já passa das duas horas, a garrafa está meia, a gravata folgada, o outro dia, o fim de semana, o feriado, a vida inteira, e essa merda de operadora podem esperar...
- "Eu vou dormir até tarde“...

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