O dia em que a luz voltou...










“É. O mundo não tem jeito. Deus atrás do poste, reclamando do aumento da conta da Celpe” (Miró)


Não conseguia escrever sequer uma linha naquelas páginas em branco. Minha mente tinha travado aquele dia por causa dos corriqueiros problemas da vida. Até escrever, que sempre me pareceu uma espécie de terapia, não foi possível. Não recordo bem do porque, mas as palavras fugiam. Parecia mais rato ao ver o gato em sua frente. Lembro agora que me prostrei, sem êxito em meu principio de resolver tal problema.
Não se deve forçar as palavras quando não se encontram ou se está dormindo. Elas fogem. Puxei uma cadeira, separei religiosamente duas dúzias de canetas velhas e me exprimi, tentando expurgar meus problemas por meio da literatura. Passei duas horas e meia analisando a folha em branco e nada. Nem uma linha. Constrangedor.
Quando me veio, do verso, a primeira rima, a luz se apagou. Para mim me pareceu o fim do mundo. Um novo apocalipse. “No final era o Verbo, o ponto e a vírgula, e exclamação sem fim e o novo acordo ortográfico tentando nos salvar”. Me senti, novamente, impotente. Tanto sentimento e nenhum verso para me definir.
Fui dormir um pouco mais tarde aquela noite. Não escrevi nada. Na escuridão da casa vazia chorei no escuro uma canção triste. Peguei no sono. Pela manhã veio o sol e acabou com tudo. Todo aquele imenso pesadelo escuro tinha fenecido. Nada de poesia. Mas como são rudes esses poetas com tudo. Se tivesse pagado a conta de energia talvez a poesia não tivesse fugido. Será que poesia tem medo do escuro?

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