Não trem de quê



(A música do “Timão e Pumba” tava meio errada e eu nem sabia.).



Se você abre seu e-mail após um dia inteiro de descanso e encontra, na caixa de entrada, pelo menos umas cinco mensagens a serem lidas, parabéns! Você está vivendo? Por que, ao invés de lembrar do e-mail não recorremos ao brilho do sol pela manhã? Não prego com isso qualquer tipo de idealismo burguês ou qualquer falsa intelectualidade, mas alertar, causar reflexão, rejeição, ódio ao texto ou repudio a quem o escreveu.

Analiso nossa robotização cotidiana, nosso apego a coisas passageiras, a transformação do banal em indispensável, e principalmente a alienação do que é realmente ser feliz. Certo professor meu trazia em suas aulas uma frase bem lógica: “Não há felicidade; apenas momentos felizes”. E o nosso apego causado por esse sistema rude, opressor e violento que nos faz seguir cotidianamente a rotina de nos afastarmos da condição humana do pensar, do agir por si mesmo sem precisar de ordens, cumprir a risca o manual do homem enlatado, do cidadão importado e comportado, da família U.S. A, do Bitolado mundo real, idealizado.

É a novela das seis, a abdução por alienígenas, a omissão das autoridades, a barbárie cotidiana, fria, desmedida. O homem inventou Deus que inventou o homem. A mulher, quem inventou? A propaganda de cerveja? As revistas de pornografia? A mídia, ditadora dos modos, do sim e do não? No nosso país, qual o lugar do pobre? Cadeia, fogão, senzala, presídio, prisão? E a alienação continua: no domingão do Faustão, no reality show do momento, na fofoca das celebridades do dia e no jornal que pinga sangue. Sexta feira é cerveja e samba. Sábado, praia, coquetel e pelada com os amigos. Madrugada de domingo, só lazer e companhia. Depois vem o jogo, a ressaca, a dívida, a poesia. Segunda é o trem lotado, o aluguel pra pagar, o leite das crianças e o metrô. A integração, a quentinha abafada, o café logo ao chegar, a coca cola gelada no almoço, a cotinha no fim do dia e a esperança num descanso, num aumento de salário, numa sorte que só tarda, apodrece o ser. Segunda feira e o caminho de volta, cansado, a troca de olhares pro lado, o silencio do vagão, o barulho do estomago e a tristeza que não quer passar. “Pedro pedreiro penseiro”. Um som pra relaxar, e assim vivemos. Mortos cada dia um pouco mais sem nos questionar. Como somos enganados, iludidos, explorados, traídos e menosprezados. Seguimos. Como somos bobos.

Comentários