Travessias





O menino e o caminho. Longo, escuro, cheio de espinhos. O menino e as lágrimas. Soluço embaixo da chuva forte que cai sobre seus ombros cansados. O menino e a saudade das brincadeiras passadas, da vida passada a limpo e do amigo, que ficou pra traz, sozinho, cansado, perdido.

O caminho e a estrada: distante, de pedra, de sol a sol e o pranto regando um par de sonhos. O caminho que se faz no braço cansado, nos lábios já sem sorriso e sem nome. Desespero de quem viu o amor voltar, e continuou seguindo. Travessias.

O destino e o homem. O medo do mundo e da morte, o caminhar calado, a frase dita de maneira certa e o clarão da lua. Travessias. O homem que era um menino que virou um homem; uma pedra na mão, outra no peito. A angustia de quem vive se esquecendo de alguém, rejeitando a morte, segurando a vida, torcendo por amar novamente, e soltando a voz nas estradas.

O menino e a melodia inexplicável da vida. O menino e o esquecimento. O chão e o solo. A estrada nova e a chuva que levou, não sei o que. O menino e o homem se confundindo no sonho. O homem e o novo lugar que já lhe pertencia, e a noite que se fez no viver, no peito, na pedra guardada, escondida, no peito de uma criança que já não se sente assim e a travessia: um novo lugar.

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