Eu Negro
Eu Negro
Filho da lágrima
Vertida e do suor
Pisado,
Vindo dos sonhos
Da noite e do
País roubado,
Amargo, a pena
Do medo da morte,
Do medo da vida,
De tudo que vi.
Eu, Negro.
Forjado na lei do
Quilombo e do açoite,
Resistência forte,
Mandinga de Preto
Que pode,
Que sobe,
Que samba,
Que sim.
Eu,
Samba,
Batuque,
Segredos
E
Truques.
Eu Negro.
Eu tudo.
Eu,
Filho do navio
E do camburão.
Da senzala
E da favela.
Eu, perseguido
Por ser
Eu mesmo,
Reprimido
Ainda hoje,
De tarde, a noite,
Amanhã cedo.
Eu, marginalizado
E detido,
Eu quilombo
E passeata,
Protesto,grito, fala,
Eu, minha própria vez.
Destemido na luta
De classe,
Esperando o porvir.
Eu, Negro,
Balanço, balança,
Tiro de culpa, desculpas, migalhas
Pra mim?
-não.
Eu tudo.
Em tudo.
Sem ilusão.
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