Resposta a um questionamento de uma amiga.





Não há fórmulas quando se trata de escrever. E vale lembrar que quando digo escrever não falo somente do esforço mesquinho e autoritário de amarrar algumas palavras, trazendo em emaranhado de sentidos. Falo do “fazer poético”, e creio que esse “fazer” deve ter sentido, objetivo e direção. Que me desculpem os teóricos, mas, assim como os loucos, prefiro os cínicos. Aqueles que se lançam sobre uma navalha para retirar do mais profundo e escondido algumas simples palavras que permitem parar um instante e refletir no que é “vivo”.

Escrevo com principiante: tímido, discreto, pouco provável e disposto a tudo. Abomino os “temas feitos”, os “momentos escolhidos”, o “partir do zero”. De que me vale a perda de tempo com Lya Luft ou Hilda Hilst? Que graça há em Clarisse Lispector ou em Vinícius, se os leitores continuam se perdendo, banhando-se em mistérios mal-resolvidos? Será que esquecemos a beleza da realidade, do é pratico, do que de fato interessa?

Escrevo, não como quem mente. Me esmago em cada palavra pronunciada de maneira torpe, conservo minhas melhores lembranças para não me apegar a tais diários repletos. Escrevo como quem não é bom com as palavras, e não consegue dizer a coisa mais simples, sem se perder numa imensidão de gestos. Por isso sou simples.

Escrevo como quem se guia na noite, sussurra sozinho palavras proibidas enquanto todos dormem, e me levanta cedo para ir em busca de outras e mais outras palavras, sejam elas boas ou más. Escrevo feito o menino que me perguntou se eu era doido e que sorriu ao ouvir dizer que eu não sabia se sim. Escrevo por necessidade e por estar cansado, pensativo. Escrevo por que sei que sou passageiro, por que sou limitado e tímido, mas tecendo e colhendo palavras sejam de qualquer forma e cor, me torno eterno e alimento meu mundo, mesmo sabendo que esse mundo ainda não mudou.

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