Dois de Julho




Um barulho. É o telefone. Do outro lado a filha pequena, carinhosamente, ao pai pergunta quando ele virá pra casa. 
Do lado de cá, ele suspira... quando ele irá retornar dessa vida? Ele não sabe. Nada diz. Sorri e só. 
Ela é muito pequena pra entender como é a vida. Pensa. Depois de alguns minutos, a ligação termina. 
Ele pensa no que vai dizer, qual será a próxima desculpa vazia no ano que vem e como ela irá reagir daqui a alguns anos, quando ele tiver que explicar que ela não entendia, que tudo que foi feito um dia foi para o seu próprio bem. 
Fica em silêncio . Não adianta discutir sozinho.  Não adianta deitar tão cedo, já que essa noite ele não vai dormir... 
Amanha terá outra prova, terá um outro caminho, haverá um outro destino, e a voz da criança que não sai do ouvido, dizendo baixinho ao telefone:
- "Pai? Vem logo. Antes que o bolo esfrie"... 

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